quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

CASAL É PRESO POR SUSPEITA DE TRAFICAR PESSOAS

ZERO HORA 31 de janeiro de 2013 | N° 17329

INVESTIGAÇÃO NA BAHIA

Casal é preso por suspeita de traficar pessoas

Um casal foi preso por agentes da Polícia Federal na manhã de ontem em Salvador (BA), suspeito de participar de um esquema de tráfico de pessoas para exploração sexual entre o Brasil e a Espanha. Segundo o delegado Fernando Berbert, o casal agenciava mulheres jovens, prometendo a elas trabalhos como dançarina em casas de show espanholas. As vítimas recebiam passagens aéreas e dinheiro para despesas pessoais antes da viagem. Ao chegar, eram forçadas a se prostituir, tinham o passaporte retido e a maior parte dos valores obtidos com os programas ficava com os agenciadores, que ameaçavam as vítimas e seus familiares.

As investigações, em parceria com a polícia espanhola, já identificaram cinco vítimas do esquema.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

COCAÍNA É VENIDA NA FRONTEIRA COM A BOLÍVIA

SBT Brasil
SBT Brasil - publicado em 21/1/2013 às 20:20

Cocaína é vendida na fronteira do Brasil com a Bolívia

A Equipe do SBT Brasil viajou até o estado do Acre, onde o Brasil tem mais de 2.000km de fronteira com o Peru e Bolívia. Os dois maiores produtores de cocaína do mundo. Grande parte da droga vendida nas cidades brasileiras é produzida no país vizinho, e entra pelo estado do Acre. A reportagem do SBT flagrou com exclusividade a ação dos traficantes. Logo na ponte que liga o Brasil com a Bolívia existe um posto da Receita Federal, que deveria ser um Posto de Controle, mas não funciona assim.

Na prática, o trânsito é livre, tanto pra quem vai, quanto pra quem vem. A cocaína é vista o tempo todo na cidade de Cobija, na Bolívia, lá a droga é oferecida em vários pontos, inclusive na ponte que liga o Brasil com a Bolívia. Muitos dos mototaxistas da cidade fazem parte desse serviço. A cocaína chega no Brasil porque muitos brasileiros vão até lá buscar, e entram e saem com a maior facilidade.
http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28847/Cocaina-e-vendida-na-fronteira-do-Brasil-com-a-Bolivia.html


Fronteira Abandonada: Cocaína entra facilmente pelo Acre

Em Assis Brasil, no Acre, entra grande parte da cocaína que circula pelo território brasileiro. Os negócios são feitos pelos traficantes peruanos que se disfarçam de taxistas e entregam a mercadoria na cidade. Muitas vezes a fronteira é cruzada passando pelo próprio posto de controle da Receita e da Polícia Federal, sem qualquer vigilância.

A droga é oferecida e negociada livremente pelos traficantes, que também usam o Rio Acre como rota alternativa para o transporte da cocaína. A única exigência deles é ver o dinheiro que será pago, antes de fornecer o entorpecente, o valor chega a R$ 3.200,00 pelo quilo. A falta de controle das autoridades brasileiras transformam a operação em algo simples para os traficantes.

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28882/Fronteira-Abandonada:-Cocaina-entra-facilmente-pelo-Acre.html


Cocaína é misturada com várias substâncias até chegar ao usuário

A cocaína que passa pela fronteira brasileira é distribuída para vários centros do Brasil. Apesar da droga, vinda do Peru ou da Bolívia, ser pura, ela é vendida misturada com diversas substâncias químicas que podem prejudicar, ainda mais, o organismo do usuário. Para lucrar com o tráfico e não desperdiçar o entorpecente traficado, os vendedores chegam a deixar apenas 16% de cocaína no pacote em que vendem.

Para decifrar o que, de fato, existe no produto que chega ao consumidor, a reportagem reuniu amostras de diferente pontos da cidade de São Paulo e levou o material para o laboratório de química da Universidade de Campinas, a Unicamp. No resultado, foram detectados talco, pó de giz, leite em pó e até um relaxante muscular para enganar os dependentes químicos.

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28952/Cocaina-e-misturada-com-varias-substancias-ate-chegar-ao-usuario.html


Droga traficada no Acre reflete na violência de outros estados

Ao longo da semana, o SBT Brasil mostrou a facilidade que os traficantes têm de entrar com drogas no país. Vinda do Peru ou da Bolívia, a cocaína chega no Acre e é distribuída para os outros estados do Brasil. A venda do entorpecente nesses centros urbanos faz com que a violência aumente. De acordo com o governador de São Paulo, Geraldo Alckimin, o estado, muitas vezes, luta contra problemas internos, mas que não serão solucionados enquanto as fronteiras não forem fiscalizadas devidamente.

O mesmo problema acontece no Rio de Janeiro, em que os policiais tentam combater o tráfico nos morros cariocas, mas isso não impede que a cocaína continue circulando em todo o país. Segundo o Chefe da Polícia Federal no Acre, Alexandre Silveira de Oliveira, é necessário aumentar o investimento e a capacidade de inteligência policial para que se possa combater as grandes organizações criminosas que passam pelas fronteiras.

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28995/Droga-traficada-no-Acre-reflete-na-violencia-de-outros-estados.html


COMENTÁRIO 

Alberto Afonso Landa Camargo , via face 29 de janeiro de 2013 13:09

Esquecendo um pouco a comoção pela tragédia de Santa Maria, está na hora de voltarmos às discussões de outras tragédias que se abatem diariamente sobre os brasileiros, consumindo milhares de vidas.

Sobre o tráfico de drogas, que é acompanhado do tráfico de armas e que alimentam o crime nos Estados, o SBT produziu uma série de reportagens mostrando o Acre como local de ampla e irrestrita liberdade para o tráfico. Claro que o Acre é apenas um exemplo que o SBT escolheu, pois esta prática está presente em muitos outros pontos das fronteiras. Isto que só se fala nas fronteiras terrestres apenas, já que o espaço aéreo e marítimo não deve ser diferente.

O tráfico de drogas e armas se reflete nas atribuições das polícias estaduais, sempre sobrecarregadas por este abandono que são nossas fronteiras, assunto que venho procurando discutir há tempos, mas que, parece, por alguma razão não há muito interesse nem dos policiais estaduais, sabidamente os mais sobrecarregados pelo abandono que são as fronteiras e os que mais são vítimas fatais disto. Pode ser, quem sabe, que tendo uma importante emissora televisiva se acordado para a abordagem destes males que passam livremente pelas nossas fronteiras e acabam se refletindo na criminalidade cada vez maior, a discussão possa ter algum incremento no sentido de concluir que a causa da criminalidade não está necessariamente no local onde ela existe com maior incidência, mas a muitos quilômetros de distância onde a fiscalização não existe praticamente.

Paremos para pensar que, se drogas e armas entrassem em menor quantidade no país, certamente o número de crimes diminuiria sensivelmente. Com isto, teríamos menos mortes, menos assaltos, menos crimes enfim, e as polícias estaduais, em especial as militares, entregariam muito menos homens e mulheres à sanha criminosa de tantos que se beneficiam com o tráfico.

A série de filmes produzidos pelo SBT está abaixo. Apenas um, o antepenúltimo da série, coincidentemente o mais impactante, eu não consegui abrir para copiar o endereço. Mas aqueles cujos endereços estão abaixo, são esclarecedores, com o reconhecimento, inclusive, de autoridades que têm a responsabilidade pela fiscalização e da autoridade estadual que comanda a segurança pública no Rio de Janeiro. O que já é um bom começo...

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28847/Cocaina-e-vendida-na-fronteira-do-Brasil-com-a-Bolivia.html

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28882/Fronteira-Abandonada:-Cocaina-entra-facilmente-pelo-Acre.html

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28952/Cocaina-e-misturada-com-varias-substancias-ate-chegar-ao-usuario.html

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/28995/Droga-traficada-no-Acre-reflete-na-violencia-de-outros-estados.html

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A DIFERENÇA ENTRE UM FUZIL E UM RIFLE DE ASSALTO (CARABINA)



A Carabina M4A1ao contrário do M16 (convencional), do AR-15 e outros trata-se de uma versão mais curta e mais leve do fuzil de assalto M16A2, tendo 80% de suas peças em comum com a M16A2. O M4A1 tem opções de fogo, incluindo intermitente simples (de um em um disparo) ou "intermitente triplo" (de três em três disparos, como o M16A2) ou, ainda, a opção remetente (disparos contínuos) no lugar da "intermitente triplo".

O AR-15, deve sua existência a estudos realizados que comprovaram que o melhor cartucho militar seria algo como um .22 de alta velocidade, com base nesse estudo o exército americano encomendou a criação um fuzil de calibre .22 capaz de penetrar um capacete de aço a 500 metros. Isso na década de 50.

Em suma, o M4A1 é um rifle (carabina) de assalto, quando na realidade o AR-15 é usado a distância e com munição diferenciada (menor calibre).

Portanto, a Arma apreendida esta semana pela BM nao é um fuzil ar-15 que seria calibre .22 de altissima velocidade e sim um M4A1 montado para este fim com peças visiveis de um M16

O AR15 tem carregador reto e nao curvo como M16 e o M4A1 e M4A2

Somente algumas diferenças:

AR-15: mais comprido ; carregador reto ; coronha inteiriça ; guarda - mão maior ; arma original

M4A1:mais curto ; carregador curvo ; coronha ajustável ; guarda - mão menor ; aperfeiçoamento do AR-15.

A Colt M4A1 é uma versão atualizada da carabina M4 de 5.56x45mm NATO. Difere da M4 original, no selector de tiro, onde a opção de disparos remetentes é agora automática e na presença de uma calha RIS (Rail Interface System) no topo do corpo da arma, onde a pega que contém a mira é assente.

Existem versões onde a calha RIS também está presente no guarda-mão, sendo esta versão a base para o programa SOPMOD (Special Operations Peculiar Modification), que permite ao soldado modificar o seu fuzil instantâneamente de modo a desempenhar melhor o papel desejado na missão. 

A Carabina M4A1 consiste de uma família de armas de fogo. Seguindo a direção contrária à sua linhagem temos versões anteriores do M16, todas baseadas no original AR-15 feitas pelo ArmaLite. Trata-se de uma versão mais curta e mais leve do fuzil de assalto M16A2, tendo 80% de suas peças em comum com a M16A2. 

O M4A1 tem opções de fogo, incluindo intermitente simples (de um em um disparo) ou "intermitente triplo" (de três em três disparos, como o M16A2) ou, ainda, a opção remetente (disparos contínuos) no lugar da "intermitente triplo". (Site de atiradores colt)

A FOTO EM ANEXO MOSTRA:

1. AR15  -  CORONHA FIXA, CANO LONGO E CARREGADOR RETO .22

2. M16 5.56

3. M4A1 5.56

4. AM4A2 .308


Fonte: Um amigo da Colt.

Nota: matéria tirada do facebook postada por Vinicius Souza

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A HIPOCRISIA ALIMENTA O TRÁFICO DE MULHERES

REVISTA ÉPOCA
21 DE OUTUBRO DE 2012 | 12:00 | CRÔNICA |

BRUNO ASTUTO, com Acyr Méra Junior e Dani barbi




Existem duas realidades no tráfico de mulheres para fins de exploração sexual. Na primeira, são moças enganadas por uma esperta rede de traficantes, que lhes promete empregos de garçonete, balconista ou dançarina no exterior. Na maior parte das vezes, a traficante muda-se para a vizinhança da vítima, faz amizade com ela, fala paulatinamente das vantagens do trabalho fora. Também usa o disfarce da “experiência própria”: como várias amigas, e até ela mesma, se beneficiaram da mudança, de como juntaram dinheiro rapidamente e compraram casa própria para a família — afinal, as despesas são pagas pela firma que as contrata e se ganha em dólar.

Seduzidas, as moças decidem viajar, com passaporte e visto prontamente tirados pela traficante, que também lhes compra roupas e a passagem. Assim que chegam ao destino final, elas se dão conta de que foram enganadas e são forçadas a dançar e se prostituir em boates abaixo de qualquer nota, hospedadas (ou encarceradas) em minúsculos apartamentos em condições subumanas. São avisadas de que terão que pagar a “dívida”: a passagem, as roupas, a alimentação, cujos valores não param de crescer, e forçadas a “trabalhar” 14, 16, 18 horas por dia. Têm seus passos vigiados por seguranças, só podem entrar em contato com a família sob escuta e são constantemente lembradas que essa está sob a mira dos traficantes. Se resolverem dar um “mau passo” e tentar entregar a rede, são executadas — algumas recebem altas doses de drogas para dar aparência à polícia de que morreram por overdose.

A outra realidade é a das moças que partem para o exterior sabendo que vão se prostituir. Nada muda a não ser a ciência da natureza do trabalho que farão. Da mesma forma, elas são escravizadas, cerceadas, veem-se reféns dos traficantes/cafetões e têm que pagar a “dívida”.

Algumas dessas moças chegam a voltar à terra natal, só para não levantar a suspeita de que foram escravizadas. Por vergonha de sua condição, não contam a ninguém que saíram do país para vencer na vida como modelo, garçonete ou balconista e viraram prostitutas, ainda que sob ameaça. E o medo de que a máfia faça algum mal a sua família colabora para o silêncio.

Um estudo da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), revelou que, entre 2005 e 2011, 475 pessoas foram vítimas do tráfico de pessoas. Dessas, 337 sofreram exploração sexual e 135 foram submetidas a trabalho escravo. Sabe-se que esse é um número bem aquém da realidade, pois as denúncias, por todos os motivos expostos aqui, são raras. No mundo inteiro, 2,4 milhões de pessoas são traficadas anualmente, movimentando entre US$ 7 bilhões e US$ 12 bilhões para as diferentes máfias. É a terceira atividade mais lucrativa do crime organizado no mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas.

Essa é a trama principal de Salve Jorge, a novela das nove que estreia amanhã. Num primeiro momento, Jéssica, a personagem de Carolina Dieckmann, servirá para explicar um pouco o tráfico de mulheres. Em seguida, será a vez de a mocinha, Morena, vivida por Nanda Costa, ser engabelada pelos traficantes. Ela vai deixar seu grande amor, sua família e seus amigos para ir atrás do sonho de uma vida melhor.

Além de uma história eletrizante e cheia de romance e vilania, Glória Perez, a autora que tem o hábito de colocar com tato e maestria o dedo na ferida da sociedade, promete confrontar o telespectador com um fantasma que só ajuda a mascarar esse tipo de crime: o preconceito. Muitas dessas mulheres, quer não tenham sido enganadas ou sim, são tratadas com a espada que marginaliza as prostitutas. É como se dissessem a elas: foram porque quiseram; puta merece. Que soubessem ou não o tipo de trabalho que as esperava, as traficadas são vítimas, sim, pois foram alojadas e acolhidas sob ameaça, fraude, rapto, coação e situação de vulnerabilidade. Quando são resgatadas ou conseguem escapar da máfia, elas enfrentam a dificuldade da reinserção na sociedade. No workshop da novela, do qual participei com o elenco, conheci muitas delas. Todas reclamaram da forma como foram recebidas de volta, como se tivesse culpa pelo que passaram. As famílias fazem um pacto de silêncio para esconder a vergonha.

Com Salve Jorge, esse silêncio será rompido, expondo à sociedade brasileira um crime que acontece tão ordinariamente sob suas narinas, mas que, pela hipocrisia com que se abordam a prostituição e a exploração sexual no país, foi colocado para baixo do tapete como se ele não existisse ou como ele se fosse descaramento de mulher da vida.

NOTA: Matéria indicada por Ana Maria Bruni - Um estudo da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), revelou que, entre 2005 e 2011, 475 pessoas foram vítimas do tráfico de pessoas. Dessas, 337 sofreram exploração sexual e 135 foram submetidas a trabalho escravo. Sabe-se que esse é um número bem aquém da realidade, pois as denúncias, por todos os motivos expostos aqui, são raras. No mundo inteiro, 2,4 milhões de pessoas são traficadas anualmente, movimentando entre US$ 7 bilhões e US$ 12 bilhões para as diferentes máfias. É a terceira atividade mais lucrativa do crime organizado no mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas.

http://colunas.revistaepoca.globo.com/brunoastuto/2012/10/21/a-hipocrisia-alimenta-o-trafico-de-mulheres/

Ligue 180 - é a Central de Atendimento à Mulher que recebe denúncias de violência, inclusive do tráfico de mulheres, além de orientações sobre direitos. A ligação é sigilosa e gratuita.

No caso de vítimas menores de 18 anos, as denúncias deverão ser encaminhas à Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) - Presidência da República, pelos seguintes telefones: (61) 3429-9907, ou apenas disque "100"

ARMA DE GUERRA EM PODER DA BANDIDAGEM NO RS


ZERO HORA 21/01/2013 | 05h35

BM apreende fuzil AR-15 no bairro Cavalhada, em Porto Alegre. Flagrante nesta madrugada foi feito após o registro de um caso de violência contra a mulher


Fuzil AR-15 foi apreendido pela Brigada Militar em uma casa do bairro CavalhadaFoto: Dani Barcellos / Especial


Policias militares que foram atender um caso de violência contra mulher acabaram apreendendo uma arma de guerra em uma casa do bairro Cavalhada, zona sul de Porto Alegre, na madrugada desta segunda-feira.

O fuzil americano AR-15, usado por forças armadas, estava na casa onde moram a vítima e o acusado de agressão. Uma pistola calibre 0.40, também restrita, uma garrucha e 202 balas — de oito diferentes calibres, 82 delas do tipo 5.56, de AR-15 — também foram encontradas no local.

— A mulher relatou que estava com medo porque o marido possuía armas em casa. Quando perguntamos mais, contou que era uma arma longa, com características de fuzil — disse o capitão Euclides Neto, oficial supervisou da BM que participou da apreensão.

Inicialmente, o suspeito relutou em abrir a porta da casa. Os policiais usaram ligações telefônicas para convencê-lo.

— Ele pensava que estávamos registrando só o caso de Maria da Penha (como é conhecida a lei que determina as punições para agressão contra a mulher). Mas a casa era pequena e o armamento estava a vista, no quarto e na cozinha — continuou o capitão Neto.

Até as 5h, o caso era registrado na 2ª Delegacia de Pronto Atendimento, no Palácio da Polícia. O nome do suspeito não foi divulgado porque ele ainda não foi indiciado.


domingo, 20 de janeiro de 2013

MERCADORES DE GENTE



ZERO HORA 20 de janeiro de 2013 | N° 17318

Quando o sonho vira pesadelo

Vítimas de redes internacionais de prostituição relatam o drama de virar escravas no Exterior após promessas de uma vida melhor


JOSÉ LUÍS COSTA

George morreu na Alemanha. Cláudia viveu por lá, mas em cárcere privado. Outras três mulheres, também gaúchas, foram presas em Hamburgo. Talita padeceu como escrava na Itália. E uma sexta jovem se viu forçada a virar dançarina de boate na Espanha.

Parece ficção, roteiro perfeito para ser incluído na novela Salve Jorge. Mas é a pura realidade. São histórias de quem virou mercadoria nas mãos de traficantes internacionais de seres humanos.

A Europa é o principal centro deste novo mercado escravagista do século 21. Alemanha, Itália e Espanha estão entre os países onde brasileiros são subjugados, como ocorreu com os personagens desta reportagem.

Todos eles jovens ambiciosos, cruzaram o Atlântico sonhando alto com uma oportunidade de dar uma guinada na vida. Mas todos foram enganados. Cláudia Guedes, aos 28 anos, acreditou em um agente de modelos que a ajudaria a encontrar um príncipe encantado na Alemanha, mas acabou vendida a um comerciante por R$ 20 mil.

Também na Alemanha, George Teixeira, 23 anos, caiu na conversa de que seria instrutor de academia e sucumbiu como stripper, até ser encontrado enforcado. A versão oficial é de suicídio, mas a família nunca acreditou nisso.

– Mataram meu filho – esbraveja em prantos a cozinheira desempregada Terezinha Natália de Souza, 59 anos, que jamais viu o corpo de George, enterrado em Hamburgo, há 14 anos.

Estudos indicam que o Brasil é o maior “exportador” de pessoas da América Latina. E, este ano, deverá assumir o segundo lugar como país onde mais são julgados processos criminais referentes ao tráfico de seres humanos.

A cada cinco dias, uma vítima é alvo deste tipo de crime em solo brasileiro – seja para o tráfico interno ou externo, conforme levantamento de outubro realizado pela Secretaria Nacional de Justiça, em conjunto com o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes (UNODC). A maioria é explorada sexualmente, predominantemente jovens mulatas e negras, um fetiche dos europeus.

A CPI do Tráfico de Pessoas do Senado, finalizada em dezembro, listou 867 inquéritos instaurados pela Polícia Federal (PF) sobre este tipo de crime nas últimas duas décadas, incluindo 29 no Rio Grande do Sul.

Um deles resultou na prisão, às vésperas do Natal, de Ernani Fernandes da Silva, 49 anos, ex-dançarino em boates da Alemanha que se escondia em Viamão, onde atuava como xamã – uma espécie de curandeiro. Ernani estava foragido da Justiça Federal desde 2006, quando foi condenado a seis anos e dois meses de prisão por aliciar três jovens para prostituição na Alemanha, onde acabaram presas no aeroporto de Hamburgo e deportadas, em 1999. A pena imposta a Ernani inclui a acusação de induzir outra mulher que foi trabalhar em uma boate na Espanha. E foi na casa de Ernani, em Hamburgo, que George desembarcou para a viagem sem volta à Alemanha.

O tráfico de pessoas é crime, mesmo que a vítima seja conivente com a situação. E é considerado de difícil repressão, principalmente quando o destino é o Exterior, porque nem sempre quem é coagido se dispõe ou tem chance de delatar o algoz.

– A pessoa está em um país estranho, irregularmente, não fala o idioma local e tem medo de procurar as autoridades. O seu único elo de segurança acaba sendo o explorador, a quem fica completamente à mercê, sofrendo humilhações e espancamentos – analisa a delegada Diana Calazans Mann, da Delegacia de Defesa Institucional, da PF gaúcha.

Diana critica a complacência com os que estão à frente de casas de prostituição, os cafetões, atividade classificada como crime:

– Existem sentenças de absolvição de donos de prostíbulos sob o princípio da adequação social. É um contrassenso. Há uma política de repressão ao tráfico de seres humanos e, ao mesmo tempo, uma leniência com a exploração sexual. A sociedade precisa refletir sobre isso.

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, lembra que o governo desenvolve o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, visando qualificar o combater ao crime.

– Precisamos estar mais articulados com outros países, dar mais apoio às vítimas, para que elas não se transformem em novas aliciadoras. É comum retornarem ao Brasil para buscar outras mulheres com intenção de pagar dívidas com quem as explora – alerta.

A viagem sem volta de George

Egresso do Exército, ambulante, George Teixeira, 21 anos, tinha pressa em mudar de vida. Queria ajudar a mãe, a cozinheira Terezinha Natália de Souza, e os dois irmãos a sair da situação difícil de pobres migrantes catarinenses refugiados em uma casa da Vila São José, em Porto Alegre.

Não titubeou quando uma vizinha ofereceu R$ 200 por dia como instrutor de academia na Alemanha, além de cama e comida de graça. George vendeu um Fusca, comprou passagens de ida e volta, tirou fotos para o passaporte, e convenceu a mãe de que tinha tomado a decisão certa.

– Ele era muito ambicioso e dizia para mim: mãe, deixa eu ir, volto em três meses e nossa vida vai mudar – lembra Terezinha, vivendo hoje em Urubici, na serra catarinense.

Em junho de 1996, George embarcou para a Europa. No voo estava a vizinha Maribel Fernandes Pinto, cujo irmão, Ernani Fernandes da Silva, ajudaria George com o emprego.

Terezinha não tinha telefone, e George se comunicava por cartas. Começou a se queixar da falta de trabalho e dinheiro, disse que virou stripper em uma boate e que tinham furtado sua passagem de volta ao Brasil.

Quase um ano depois, George apareceu de surpresa em casa. Para a mãe, tinha o semblante estranho. Ficou apenas um pedaço de uma tarde de abril de 1997 na casa dela e contou que retornaria logo para a Alemanha porque viajara com dinheiro emprestado pelo dono da boate e precisava trabalhar para quitar a dívida. Foi a última vez que Terezinha viu o filho.

Em julho de 1998, George escreveu contando que tinha se casado com uma alemã, e que pretendia casar-se com a jovem em Porto Alegre, prevendo chegar em setembro. Em 24 de agosto daquele ano, um fax chegou às mãos de Terezinha, informando a morte do rapaz. O corpo tinha sido encontrado no banheiro de casa, com um cinto de roupão enrolado no pescoço. Para a polícia alemã, suicídio.

– Como pode uma pessoa se casar em julho e se matar em agosto? Ele foi assassinado, mas não consegui provar nada – afirma, aos prantos.

George foi sepultado em Hamburgo.


Cláudia foi vendida por R$ 20 mil

Julho de 1995. No salão de beleza em que trabalhava, no bairro Azenha, na Capital, a cabeleireira Cláudia Guedes ouviu de uma amiga modelo a oferta de “virar mulher de europeu rico, ganhar dinheiro para dar uma casa para a mãe”.

Cláudia só teria de ir a Europa para ser apresentada a um bem-sucedido comerciante siciliano, que vivia em Neuss, na região de Düsseldorf. O interesse do italiano era se casar com uma negra brasileira e viver na Bahia. Se Cláudia aceitasse, teria vida de princesa. Do contrário, poderia trabalhar lá ou voltar para casa.

Morena, solteira, 28 anos, com uma criança para criar, Cláudia cedeu aos apelos e embarcou para a Alemanha. Foi recebida pela irmã do agenciador de modelos. A mulher levou Cláudia para lojas de roupas, salão de beleza e depois para a “nova casa”. O futuro marido saiu com Cláudia para um passeio de carro. Com o dobro da idade dela, o homem decidiu: ficariam juntos, Cláudia teria carro, moradia, comida, mas não poderiam se casar – ele já era casado. Estava proibida de sair sozinha da casa da amiga e teria de esquecer o filho deixado com a mãe:

– Àquela altura, já tinha me arrependido, me desesperei e gritei: “meu Deus”. Ele, enfurecido, dirigindo a 150 km/h, tirou as mãos do volante e disse que não acreditava em Deus, que tinha de ser do jeito dele, porque tinha pago por mim. Perguntava se eu tinha recebido dinheiro.

Desnorteada, Cláudia foi levada ao “cativeiro”. Quinze dias depois, o agente de modelos apareceu na casa. O italiano cobrou explicações, e exigia de volta o que tinha pago – R$ 20 mil. Além de Cláudia, Salvatore também fora ludibriado.

– Aí, teve muita confusão e entendi que tinha sido vendida. Bateu o pavor.

Foram 25 dias de angústia até que Cláudia recebesse o passaporte para embarcar de volta. De mãos e bolsos vazios.


Talita, escrava por dois anos

Filha de uma família de classe média da Paraíba, Talita Sayeg – nome adotado ao assumir a condição de transexual – foi expulsa de casa aos 15 anos. Ganhava a vida nas ruas de João Pessoa, até ser atraída por Isnard Alves Cabral, a Diná, travesti paraibano que vive em Roma, suspeito de comandar uma rede de tráfico para exploração sexual na Europa a partir do Nordeste.

Decidida a se dar bem na Itália – um dos destinos preferidos de transexuais brasileiros –, aos 18 anos, em 2002, Talita arriscou se aventurar. Na Paraíba, uma irmã de Diná organizou a viagem. Bancou as despesas e a colocou em um avião com outros dois travestis rumo à Toscana, cada um com R$ 2 mil na bolsa para serem aceitos como turistas.

Na chegada à cidade litorânea de Viareggio, teve de entregar o passaporte a Diná e o dinheiro com o qual passou na alfândega. Talita sabia que teria de pagar pela viagem, já conhecia histórias de pessoas que se rebelavam e eram vendidas a redes de traficantes europeus. Mas não esperava que a conta fosse tão alta: US$ 12 mil, o equivalente a R$ 24 mil. Ainda tinha de pagar R$ 100 por dia como diária da casa, gastos com alimentação e transporte e um regalo para agradar Diná, em geral, uma joia ao custo de R$ 3 mil.

Talita conta que trabalhava das 20h às 6h, chegando a 15 programas por noite. Lembra que foi escravizada por dois anos, até conquistar sua carta de alforria, em Roma.

– Tinha gente que se revoltava, se atirando nas drogas, desesperada por ganhar o dinheiro, mas vê-lo ir embora. Passavam nas casas recolhendo a grana todas as manhã.

Diná, o feitor de Talita, foi denunciado em 2010 pelo Ministério Público Federal da Paraíba com outros quatro paraibanos e um italiano sob suspeita de traficar dezenas de travestis para a Europa.

Talita ainda chora o dinheiro perdido, mas se considera uma sobrevivente. Desde maio mora em Porto Alegre, buscando uma nova vida.



COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Desamparado de leis rigorosas, de uma justiça ágil e de um corpo policial permanente e ostensivo específico de fronteira, o Brasil não consegue manter uma rigorosa vigilância dos acessos, patrulhar as linhas e nem fixar postos de controle para impedir o tráfico de armas, animais, valores, arte e drogas e, pior, é incapaz de conter o tráfico de pessoas que sacrifica famílias e vidas inocentes. As medidas da União até agora são superficiais, inoperantes e sobrecarregam a polícia federal, uma polícia com alta capacidade investigativa, mas insuficiente para o patrulhamento permanente nas fronteiras. A promessa de investir nas polícias estaduais para atuar nas fronteiras é delegar uma responsabilidade que é exclusiva da União e de suas relações internacionais.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

CRIMES HEDIONDOS


ZERO HORA 15 de janeiro de 2013 | N° 17313

EDITORIAIS


O assassinato de uma turista gaúcha na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, retrata a banalidade de crimes contra a vida que vêm se repetindo com assustadora frequência. Por nada, aparentemente por crueldade, delinquentes armados executam pessoas que sequer reagem aos seus ataques. Se o país já tem uma legislação rigorosa para punir tais delitos, o que falta para que seja possível combater essa verdadeira barbárie? A questão da proliferação de armas nas mãos de pessoas pouco habilitadas ou irresponsáveis tem que ser rediscutida, assim como a necessidade de aumento do policiamento ostensivo nas áreas mais movimentadas. Mas o ponto principal é o desenvolvimento de uma cultura de paz, por meio da educação, da ação do Estado e da participação ativa de todos os cidadãos num processo contínuo de convívio civilizado.

Há alguns aspectos comuns nos crimes bárbaros que se multiplicam por todo o país. Um deles é a brutalidade que costuma caracterizá-los. Outro, a falta de responsabilização dos autores por parte dos organismos de segurança, que invariavelmente demonstram empenho apenas nos casos mais rumorosos, deixando num plano secundário ocorrências que parecem incorporadas ao cotidiano de uma parcela da população mais suscetível à criminalidade. É o que se constata, por exemplo, nas chacinas que se intensificaram em São Paulo a partir do segundo semestre do ano passado. De alguma forma, foi o que ocorreu também no caso do catarinense que matou pais, irmã e sobrinho no município de Penha e no assassinato de quatro jovens em Cachoeirinha por homens com uniformes da PM. Nesses dois últimos exemplos, havia também o envolvimento de drogas, o que atesta a fragilidade das políticas de combate ao narcotráfico.

Além de intensificar medidas preventivas contra a violência indiscriminada, o poder público precisa demonstrar condições de investigar os crimes para identificar os autores e fazer com que possam ser responsabilizados por seus atos. No fato mais recente, no qual a turista gaúcha foi morta a tiros num momento de lazer, quando se preparava para realizar compras, chama a atenção, mais uma vez, a particularidade de familiares clamarem por justiça enquanto lamentam a perda. Nesse e em outros episódios nos quais falharam as medidas preventivas por parte do poder público, porém, a sociedade não deveria ter que pedir justiça. Era de se esperar que simplesmente recebesse o resguardo das instituições, como forma de atenuar o sentimento generalizado de impunidade.

Os brasileiros precisam confiar na perspectiva de que o país venha, a médio e longo prazos, a conviver com uma cultura de paz, na qual as soluções para conflitos como os geradores de violência possam ser buscadas por meio do diálogo, do entendimento e da ênfase à educação. De imediato, porém, precisam exigir que o poder público reassuma seu papel em áreas hoje sob o comando do crime organizado, combatendo sem trégua questões como o comércio de drogas e a presença de armas em mãos indevidas.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Respondendo a pergunta do Editorial - "Se o país já tem uma legislação rigorosa para punir tais delitos, o que falta para que seja possível combater essa verdadeira barbárie?" 

A princípio, a legislação não é rigorosa, é branda a partir de um Constituição plena de direitos sem deveres ou contrapartidas que amarra e centraliza a justiça nas cortes supremas, enfraquecendo as leis e as demais instâncias de justiça, essenciais e auxiliares. Na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, os constituintes focaram apenas as forças policiais, esquecendo que numa democracia, estas forças precisam de um Sistema de Justiça Criminal para operarem no direito e enfrentarem as ilicitudes com coatividade. Ocorre que no Brasil não existe este sistema, já que o Judiciário se posiciona como um poder a parte do Estado e distanciado das polícias, fraco diante do poder político e obrigado a manter uma estrutura arcaica, ligações burocratizadas, processos morosos e o transitado em julgado centralizado num poder supremo.

Por outro lado, há a União, acobertada pelos congressistas, que insiste em políticas demagógicas, falaciosas, superficiais, midiáticas, partidárias e inoperantes no controle das fronteiras e nas estratégias de ordem e segurança pública de responsabilidade federativa. Enxerga apenas o aparato policial, desprezando as leis brandas e a falta de um sistema de justiça criminal que dá continuidade e o suporte. Nas fronteiras, a cegueira é maior ainda quando coloca na PF, uma polícia de alta capacidade investigativa, atribuições típicas de polícia ostensiva, aumentando seus efetivos e desqualificando a estrutura enxuta e dinâmica. Para garantir visibilidade na mídia, recorreu às FFAA, entregando funções só dadas a ela por regimes totalitários, quando poderiam muito bem dar o suporte logístico sem se envolverem em questões de segurança pública.

Assim caminha o Brasil, sem foco e sem norte, incapaz de produzir políticas profissionais numa área tão essencial para a convivência, vida e patrimônio de brasileiros e turistas que nos visitam.  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

DELEGADOS DA PF NA FRONTEIRA ADMITEM DIFICULDADES DA VIGILÂNCIA

PORTAL CÂMARA DOS DEPUTADOS 1/01/2013 - 11h28

Divulgação/Governo do Amazonas

Na Amazônia, rios dificultam combate ao tráfico de droga, segundo a polícia.

Na faixa de fronteira brasileira existem 588 municípios, entre eles 28 cidades gêmeas, que são “emendadas” com cidades de outros países. Delegados da Polícia Federal (PF) afirmam que a vigilância é difícil. O principal problema é o tráfico de drogas.

No Oiapoque, fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, há uma particularidade: garimpeiros brasileiros invadem o território francês. “É uma zona constantemente tensa, pelo fato dos constantes conflitos gerados em razão da clandestinidade do trabalhador nessa zona de fronteira”, diz o policial federal Jorielson Nascimento.

Já em Tabatinga, no Amazonas, o delegado da PF Gustavo Pivoto afirma que a floresta dificulta a vigilância, cujo foco é o tráfico de drogas. A cidade faz fronteira com Letícia, na Colômbia, e Santa Rosa, no Peru. “Aqui não existem estradas, existem rios. Fazer polícia aqui significa começar em desvantagem, devido aos aspectos geográficos e naturais da região.”

No Acre, o maior problema é a cocaína vinda do Peru, da Colômbia e da Bolívia, segundo o delegado Alexandre Silveira. “Temos a BR-364, por onde pode ser feito o escoamento de drogas, e também vários rios que cortam o nosso estado, que podem ter acesso à Bacia Amazônica e por ali serem escoados para dentro do território nacional”, aponta.

Inteligência

Silveira, que é responsável por toda a fronteira do Acre, reconhece que o número de policiais federais na região é insuficiente, mas diz que apenas a presença ostensiva não resolve. “O que precisamos é de mais efetivo, sim, mas também de uma qualificação desses efetivos para que a gente possa atuar mais na área de inteligência.”

O delegado Júlio Fujiki resume a situação de Guajará-Mirim, em Rondônia, que é separada da Bolívia por um rio. “Nós temos uma grande dificuldade em patrulhar toda a extensão do rio, em razão da existência de várias cachoeiras, que não permitem a navegação em todo o trecho”, conta.

Descendo para o extremo sul do País, no Chuí, fronteira com o Uruguai, também há um grande volume de ocorrências, segundo o delegado Carlos Pilati. “A nossa realidade aqui, geograficamente, é de isolamento, mas a gente tem um trânsito de imigrantes bem grande. Os principais crimes apurados pela Polícia Federal na região são contrabando, descaminho, tráfico internacional de armas e munições, tráfico de drogas e importação irregular de agrotóxicos.”

Aeronáutica e Exército

A Força Aérea afirma que controla todo o espaço aéreo e tem condições de interceptar aviões não identificados no ar em cerca de cinco minutos, podendo até derrubá-los. O major-aviador Bruno Pedra explica que antes são feitas várias tentativas de identificação por rádio e quase sempre a interceptação não é necessária.

“A gente trabalha de forma permanente, num serviço de alerta. Temos uma escala de pilotos 24 horas por dia, todos os dias do ano, onde eles podem ser acionados para verificação de uma aeronave que esteja ingressando no espaço aéreo brasileiro.”

Responsável pela integridade do território nacional, o Exército tem cerca de 30 mil homens trabalhando na proteção das fronteiras. O general Santos Guerra, comandante do Centro de Comunicação e Guerra Eletrônica do Exército, diz que é preciso aumentar o contingente, mas também incorporar meios tecnológicos para aperfeiçoar a vigilância.

“Aumentou o crime na fronteira e também aumentou a vigilância. Mas, no momento, acredito que a gente esteja perdendo um pouco essa guerra. Temos de retomar, reduzir isso aí”, diz o general.

Reportagem – Wilson Silveira 
Edição – Daniella Cronemberger
AGÊNCIA CÂMARA NOTÍCIAS

SINDICATO DENUNCIA ABANDONO

PORTAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 11/01/2013 - 11h25

Sindicato percorre postos da Receita na fronteira e denuncia abandono

Rafael Godoi - Ascom Sindireceita

Em Bela Vista (MS), a cancela do posto da Receita foi retirada devido à falta de estrutura para fiscalização.

A Receita Federal tem 34 postos de fiscalização ao longo dos 16.800 quilômetros de fronteira. Dois diretores e um jornalista do Sindicato Nacional dos Analistas Tributários da Receita Federal (SindiReceita) percorreram todos os postos nos últimos três anos e lançaram um documentário, em livro e vídeo, intitulado “Fronteiras Abertas – Um Retrato do Abandono da Aduana Brasileira”.

Depois de passar por diversos pontos da fronteira que têm uma fiscalização precária ou nenhuma fiscalização pela Receita Federal, o diretor do SindiReceita Sérgio de Castro afirmou que “o País está, neste momento, completamente aberto para quem quiser chegar e entrar trazendo o que quiser.”

No posto aduaneiro de Assis Brasil, no Acre, fronteira com o Peru, há apenas um funcionário da Receita Federal para vistoriar carros e caminhões. Enquanto ele está ocupado com um veículo, os demais passam direto. Às 17 horas, a Receita fecha. No final do seu expediente, sem ninguém para fazer revezamento, o funcionário da Receita levanta a cancela e vai embora.

O diretor do SindiReceita Moisés Hoyos, um dos que percorreram as fronteiras, diz que esse problema ocorre em outros locais também. “Em várias localidades, principalmente na região Norte e na região Sul, quando dá o horário de 17 horas, 18 horas, a Receita Federal fecha seu ponto de fronteira”.

Nesses locais, quem quiser entrar com mercadoria ilegal tem trânsito livre. Já os que quiserem entrar legalmente no Brasil com alguma mercadoria importada precisará voltar no dia seguinte, para que ela seja registrada.

Fiscalização com balde

Em Guaíra, no Paraná, fronteira com o Paraguai, a equipe do sindicato encontrou caminhões carregados com grãos sendo esvaziados com balde para a fiscalização da carga. Enquanto isso, formavam-se enormes filas de caminhões. Segundo o sindicato, bastaria um sistema de escaneamento da carga para agilizar o trabalho.

O jornalista Rafael Godoi, coautor do livro “Fronteiras Abertas”, conta o que viu: “Percorremos rodovias federais e estaduais, estradas vicinais e rios na fronteira do Brasil com diversos países, em diversos estados. Nesses pontos, caminhões carregados com carvão, madeira, bebidas e produtos agrícolas entram no Brasil diariamente sem passar por nenhuma fiscalização.”

Posto e ponte sem uso

A equipe do Sindiceita chegou num sábado de manhã a Bela Vista, Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai. O posto da Receita estava fechado. Em cerca de duas horas, mais de 200 veículos entraram no Brasil sem inspeção, e apenas alguns deles foram vistoriados por soldados do Exército.

Em Epitaciolândia, no Acre, fronteira com a Bolívia, os sindicalistas também encontraram o posto da Receita fechado. Inconformados, motoristas transportando carga com toda a documentação regular foram informados de que deveriam voltar no dia seguinte.
Rafael Godoi - Ascom Sindireceita

Região de Porto Murtinho (MS), na fronteira com o Paraguai: não há controle do trânsito de embarcações.

Rafael Godoi disse que a espera de caminhoneiros é generalizada. Em Uruguaiana, tríplice fronteira de Brasil, Argentina e Uruguai, fica o terceiro maior porto seco do mundo. Um dos caminhoneiros disse que já havia esperado 20 dias para a liberação de sua carga naquele local. Outro disse que já havia esperado 15 dias. Saindo de lá, eles precisariam passar novamente pela aduana em São Paulo, onde perderiam de dois a cinco dias para nova inspeção.

Em 2012, o SindiReceita esteve no Amapá, no extremo norte do País, para mostrar uma ponte que liga Oiapoque à Guiana Francesa. A ponte, que custou R$ 71 milhões ao governo brasileiro, foi construída há mais de um ano e não pode ser utilizada até hoje por falta do posto de fronteira brasileiro. Do lado francês, o posto está pronto há mais de um ano, mas só vai operar quando o lado brasileiro estiver funcionando. Enquanto isso, os carros cruzam o rio Oiapoque de balsa.

Falta de servidores

O objetivo do sindicato, ao fazer o documentário, foi mostrar a precariedade das condições de trabalho dos analistas tributários e pedir a contratação de mais analistas para os postos de fronteira, em número suficiente para que fiquem abertos 24 horas por dia, todos os dias do ano. Segundo o sindicato, a Receita tem menos de 600 funcionários trabalhando na fronteira. Na avaliação do sindicato, esse número precisaria ser, no mínimo, dobrado.

O subsecretário-adjunto de Aduana da Receita Federal, Luís Felipe Barros, disse que novos servidores serão deslocados neste ano para as fronteiras. “A gente tem um concurso realizado recentemente, com o ingresso de quase 1 mil servidores. Quase a totalidade desses servidores serão lotados na fronteira.”

Segundo Barros, o controle das fronteiras faz parte do atual planejamento estratégico da Receita: “Só no ano de 2012, a gente teve um crescimento de 130% no volume de apreensões, decorrente da atividade de vigilância e repressão. Isso é resultado da estruturação que se persegue do trabalho na fronteira.”

Reportagem – Wilson Silveira 
Edição – Daniella Cronemberger
AGÊNCIA CÃMARA NOTÍCIAS

GOVERNO COMEMORA PRIMEIROS RESULTADOS DO PLANO ESTRATÉGICO DE FRONTEIRAS

PORTAL CÂMARA DE DEPUTADOS - 11/01/2012

Governo comemora primeiros resultados do Plano Estratégico de Fronteiras




O Plano Estratégico de Fronteiras foi lançado em junho de 2011 e consiste na ação integrada de diversos órgãos do governo nas fronteiras, principalmente Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal e Guarda Nacional. Ao lançar o plano, a presidente Dilma Rousseff disse que se tratava de uma prioridade da sua gestão: “É a própria Presidência da República que assume um papel ativo no controle, na avaliação, no fornecimento de instrumentos para que este plano seja, de fato, um plano vitorioso e vigoroso.”

Em 18 de dezembro, o governo divulgou o balanço de um ano e cinco meses do programa, sobretudo das operações Sentinela e Ágata. A primeira é coordenada pelo Ministério da Justiça, e a segunda, pelo Ministério da Defesa.

A Operação Sentinela desarticulou 42 organizações criminosas transnacionais, prendeu 20 mil pessoas e apreendeu 310 toneladas de maconha e 40 toneladas de cocaína, que são suficientes para encher 35 caminhões. A quantidade de drogas apreendidas foi 330% maior, se comparada com período equivalente, entre janeiro de 2010 e maio de 2011.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, comemorou o resultado. “Dezesseis mil quilômetros de fronteira, entrecortados por terras indígenas, florestas, cidades, é realmente um grande desafio. Agora, esse desafio está sendo superado. Os números são muito positivos. Estamos conseguindo fazer uma fiscalização melhor das nossas fronteiras.”

A Operação Sentinela também apreendeu 2.235 armas, 7.500 veículos, R$ 10 milhões oriundos de atividade ilícita e quase 2 milhões de medicamentos falsificados ou de venda proibida no Brasil.

Defesa

O Ministério da Defesa realizou seis edições da Operação Ágata, com o seguinte resultado: 319 mil veículos vistoriados, 222 aviões inspecionados e 5.600 embarcações vistoriadas, das quais 498 foram apreendidas. Também nas operações Ágata, quatro pistas clandestinas de pouso foram destruídas e foram apreendidos 19 mil quilos de explosivos e 11 mil quilos de entorpecentes.


O ministro da Defesa, Celso Amorim, destacou a importância da cooperação dos países vizinhos. “É muito importante que os nossos vizinhos não só sejam avisados, mas sejam convidados a participar, isto é, fazendo algo parecido do lado deles, o que dificulta inclusive o trânsito de criminosos, ou pelo menos a observar, enviando oficiais para as nossas operações.”

As operações Ágata realizam também ações de assistência social. Foram feitos 18 mil atendimentos odontológicos, 29 mil atendimentos médicos e 9 mil vacinações, além de terem sido entregues 195 mil medicamentos.

Esforço permanente

Os críticos da atuação do governo nas fronteiras reconhecem os resultados positivos das operações, mas afirmam que esse esforço deveria ser permanente, pois na maior parte do tempo as fronteiras ficariam sem proteção.

O general Santos Guerra, comandante do Centro de Comunicação e Guerra Eletrônica do Exército, diz que, durante cada operação, o Exército mobiliza até 10 mil homens. Esse esforço, segundo ele, não pode ser permanente neste momento.

“O objetivo, a médio prazo, é que essa Operação Sentinela esteja presente 24 horas por dia, sete dias por semana. E que as operações tipo Ágata sejam mais frequentes, não se tornem episódicas. O governo tem investido muito dinheiro, tem feito as operações, tem obtido muito bons resultados. Precisa aumentar, mas, no momento, provocaria um esgotamento das entidades se ficasse um período maior do que tem ficado.”

Armas e drogas

Apesar do reforço no policiamento nas fronteiras, as drogas e as armas continuam chegando às cidades, supostamente em volume cada vez maior. O Brasil é hoje o segundo maior consumidor de cocaína e seus derivados no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O delegado Leonardo de Castro, da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do Distrito Federal, afirma que a maior parte da droga que entra na fronteira consegue chegar ao destino. “A fronteira do Brasil é muito grande, e a política de repressão na fronteira é muito fraca. Então a droga chega às capitais quase sem nenhuma abordagem. Só quando a polícia faz um trabalho investigativo é que consegue pegar essa droga, mas a gente acredita que pega pouca parte da droga que entra.”

Entre os investimentos previstos para este ano dentro do Plano Estratégico de Fronteiras, estão a compra de equipamentos de comunicação, viaturas, lanchas, coletes à prova de balas e a construção de residências funcionais para policiais federais.

Reportagem – Wilson Silveira 
Edição – Daniella Cronemberger
AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É uma comemoração midiática, demagógica e voltada ao efeito político. A realidade mostra que nada mudou.

DEPUTADOS CRITICAM PLANO DE FRONTEIRAS

PORTAL DA CÂMARA DE DEPUTADOS 11/01/2013 - 11h31

Deputados criticam Plano de Fronteiras e cobram combate mais efetivo ao tráfico


Após um ano, governo faz balanço positivo do Plano Estratégico de Fronteiras, mas parlamentares e especialistas criticam a falta de segurança nas áreas que fazem limite com outros países. Na avaliação de deputados, falta investimento em pessoal e tecnologia.

Polícia Federal

Operação da Polícia Federal em fronteira: deputados apontam falta de pessoal e de tecnologia.

Deputados apontam falhas no Plano Estratégico de Fronteiras, lançado há um ano e meio pela presidente Dilma Rousseff, e cobram uma atuação mais efetiva do governo para reduzir a entrada de armas ilegais e de drogas no País e conter a onda de violência nas cidades.

O balanço positivo divulgado em dezembro pelo governo sobre o aumento de prisões e apreensões de drogas, nas operações feitas no âmbito do Plano Estratégico de Fronteiras, não convenceu deputados cuja atuação está relacionada às fronteiras e à segurança pública.

O vice-presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), acredita que o plano não resolveu a situação: “Praticamente nada foi feito. O Brasil tem quase 17 mil quilômetros de fronteiras, com dez países, três dos quais são os maiores produtores de cocaína de todo o planeta. E nós não vimos nenhum ato concreto para realmente proteger essas fronteiras, que estão absolutamente relegadas.”

Para Mendes Thame, o governo deveria, em primeiro lugar, qualificar as Forças Armadas. “Recentemente, o general Maynard Santa Rosa declarou que o Brasil tem munição para meia hora de combate, só isso, e que a maioria dos armamentos brasileiros foi adquirida há mais de 30 anos. Não dá para enfrentar um problema como o da segurança, das drogas, do crack, do óxi, apenas no discurso.”
Arquivo/ Leonardo Prado

Efraim Filho defende gratificação para servidores que trabalham na fronteira.

O presidente da Comissão de Segurança Pública e de Combate ao Crime Organizado, deputado Efraim Filho (DEM-PB), diz que a situação das fronteiras se tornou crucial no combate à criminalidade no País, já o problema tem foco nas drogas e nas armas. “Tem que haver ações que vão desde a valorização do servidor da segurança pública ou da Receita que presta serviços nas fronteiras. Eles têm que ter uma gratificação a mais por estarem cumprindo esse papel”, aponta.

A Comissão de Trabalho já analisa um projeto, enviado à Câmara em agosto pela presidente Dilma Rousseff, que concede indenização de R$ 91 por dia de trabalho em delegacias e postos de fronteira (PL 4264/12). O projeto será analisado também pela Comissão de Constituição e Justiça, antes de ir para o Senado.

Efraim Filho acrescenta, porém, que o problema não está apenas no pessoal. “O Brasil possui quase 17 mil quilômetros de fronteira, e não temos quantidade de pessoal para tomar conta dela, por mais que sejam feitos inúmeros concursos. É preciso avançar no quesito da tecnologia.”

Planejamento

O deputado Fernando Francischini (PEN-PR), que já foi delegado da Polícia Federal, também critica a falta de servidores e de infraestrutura. “Não há fórmula mais direta do que aumento do efetivo e infraestrutura nas pontas, onde esse pessoal vai trabalhar. Então, o governo precisa fazer investimento financeiro, de criação de infraestrutura (prédios, viaturas, equipamentos) e, por outro lado, concursos públicos para as carreiras típicas de Estado que trabalham em fiscalização de fronteiras.”

Francischini aponta falta de planejamento e diz que uma prova disso foi a compra de veículos aéreos não tripulados de Israel para a Polícia Federal, os chamados Vants, que ficaram parados. “É um bom projeto, mas o governo precisava ter dado a infraestrutura necessária à Polícia Federal para que esse avião pudesse fazer o monitoramento das áreas, as fotografias aéreas, e tivesse uma equipe em solo para agir contra os contrabandistas de armas e de drogas.”

O deputado, que foi coordenador de Operações Especiais de Fronteiras da Polícia Federal no Sul do País, afirma que a fronteira está cheia “buracos” e cita sua região como exemplo: “No Paraná, temos o lago de Itaipu. São 175 quilômetros de leito navegável, separando o Brasil do Paraguai, entre a região de Foz do Iguaçu e Guaíra, e com a fiscalização quase zero. Nós temos uma base da Polícia Federal em Guaíra, pequena, mas o efetivo não chega nem perto do que é necessário em Foz do Iguaçu, e o lago é terra de ninguém.”

Moradores

A presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), trabalha para a inclusão de recursos para as Forças Armadas no Orçamento da União. Moradora de uma região de fronteira, ela promoveu seminários para a discussão não apenas dos problemas relacionados à segurança, mas dos direitos das pessoas que vivem nessas áreas.

“Temos pessoas que moram de um lado da fronteira e às vezes casam com pessoas de outro país, ou moram numa cidade e atravessam a fronteira para trabalhar ou para estudar. Além o debate sobre a proteção da fronteira, temos que nos preocupar também com a vida de quem está morando na região”, afirma a deputada.





Precariedade da vigilância nas fronteiras alimenta violência nas cidades



TV Câmara

Fiscalização nas fronteiras não impede entrada de drogas no País.

Um ano e meio após o lançamento do Plano Estratégico de Fronteiras, pela presidente Dilma Rousseff, a facilidade com que as drogas, as armas e o contrabando em geral entram no Brasil é apontada por autoridades e especialistas como a origem dos altos índices de criminalidade urbana.

O general Santos Guerra, comandante do Centro de Comunicação e Guerra Eletrônica do Exército, diz que a vigilância nas fronteiras aumenta dia a dia, mas tem sido insuficiente para conter o crime, que aumenta com maior rapidez.

“Acredito que a situação, no que diz respeito às drogas que circulam pela fronteira, seja a principal causa da criminalidade dos grandes centros. E não circulam apenas as drogas. São outros ilícitos: tráfico de armamentos, descaminhos... Isso vem frustrando a política de segurança, a política pública na área de saúde e a educação”, afirma o general.

O delegado Leonardo de Castro, da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do Distrito Federal, explica que o tráfico de drogas desencadeia uma série de outros crimes nos centros urbanos. “A gente vê nas ocorrências policiais e nas investigações que grande parte dos homicídios é relacionada a acertos de contas do tráfico de drogas e também surgem quadrilhas de roubos de carros, de lojas, para arrecadar dinheiro para comprar drogas nos outros países.”

Com a implantação do sistema de proteção e vigilância aérea da Amazônia, o chamado Sipam/Sivam, e a aprovação da Lei do Abate, que deu sinal verde para a Força Aérea derrubar aviões de traficantes, o tráfico de drogas e armas passou a ser feito principalmente por terra nos últimos anos.

Segundo a Polícia Federal e a Polícia Civil do Distrito Federal, a cocaína entra no Brasil principalmente pela região Norte, vinda da Bolívia, do Peru e da Colômbia, enquanto a maconha e as armas entram principalmente pela região Centro-Oeste, vindas do Paraguai.

Amazônia

O geólogo Antônio Feijão, que é superintendente do Departamento Nacional de Produção Mineral no Amapá, afirma que o Poder Público precisa se instalar na fronteira. “O Estado sempre foi um turista na Amazônia. O que precisa é o governo se instalar, não com esses pingados pelotõezinhos de fronteira, que agregam 40, 50 soldados, que mais estão para hastear o pavilhão nacional do que para defender geopoliticamente uma nação que tem uma Amazônia na dimensão que nós temos.”

O delegado da Polícia Federal Alexandre Silveira, responsável pela fronteira brasileira com o Peru e a Bolívia, no estado do Acre, afirma que a vigilância na região amazônica é muito difícil, por ser uma área muito extensa, de mata fechada, despovoada e de difícil acesso. “É muito difícil fazer essa fiscalização simplesmente com a presença de homens. Se você colocasse todo o efetivo do Exército brasileiro de mãos dadas, mesmo assim você não conseguiria fechar a fronteira e também não conseguiria bons resultados em termos de segurança pública.”

O Brasil faz divisa com dez países. A fronteira terrestre tem 16.800 quilômetros. Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, há 588 municípios na faixa de fronteira, sendo que, entre eles, há 28 cidades gêmeas (“emendadas” com outra cidade no país vizinho).

Reportagem – Wilson Silveira
Edição – Daniella Cronemberger

AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Sem um corpo policial específico para o policiamento das fronteiras, estas não estarão sob controle, vigilância e patrulhamento constante. O resto é puro desperdício de meios e retórica falaciosa.

MORTE NA PONTE DA AMIZADE


ZERO HORA 14 de janeiro de 2013 | N° 17312

Polícia está atrás de brasileiros

Turista gaúcha de 26 anos foi assassinada sábado durante assalto na fronteira Brasil-Paraguai, onde pretendia fazer compras


HUMBERTO TREZZI E MARIELISE FERREIRA

Os jovens tripulando duas motos que participaram do assalto que resultou na morte da turista gaúcha Noiara Bonatto de Souza, 26 anos, na fronteira Paraguai-Brasil, seriam brasileiros. O crime ocorreu ao amanhecer de sábado, quando a jovem se preparava para realizar compras em Ciudad del Este, localidade paraguaia separada da cidade brasileira de Foz do Iguaçu pelo Rio Paraná.

Noiara cruzava a Ponte da Amizade, que liga os dois países, quando foi baleada por um assaltante. Os dois condutores das motos estavam de capacete e seriam mototaxistas, mas os dois caroneiros não usavam a proteção e foram avistados por testemunhas. O jovem que atirou em Noiara – causando sua morte – é franzino, tem cerca de 17 anos, cabelo preto, pele branca e 1m70cm de altura, descreve o delegado Getúlio de Moraes Vargas, da Polícia Civil paranaense, que chefia a investigação do latrocínio em Foz do Iguaçu:

– Os ladrões esperavam turistas que atravessam a Ponte da Amizade, carregados de dinheiro. Escolheram a vítima a esmo. Talvez por inexperiência, o criminoso estava com o dedo no gatilho, e o revólver disparou.

Conforme testemunhas ouvidas, os jovens caroneiros seriam brasileiros porque usaram a língua portuguesa para anunciar o assalto e para falar entre si. Outro indício é que correram com as motos para o lado brasileiro.

As motocicletas tinham placas paraguaias e seriam táxis. Não se sabe se os condutores estavam envolvidos, mas levaram os assaltantes até o lado brasileiro da fronteira. Uma pessoa anotou a placa da moto em que estava o autor do disparo. Policiais paraguaios e brasileiros realizam buscas atrás do veículo, mas também trabalham com a hipótese de que as placas possam ser falsas ou clonadas.

O delegado Getúlio Vargas requisitou à Guarda Municipal de Foz do Iguaçu as imagens de câmeras na região da ponte, mas o equipamento não teria gravado o assalto, já que o crime ocorreu no lado paraguaio. O policial diz que pediu ajuda à Policia Nacional do Paraguai, mas até ontem não havia obtido acesso a imagens gravadas no lado da ponte onde aconteceu o roubo.

– Cabe a nós torcer para que a polícia paraguaia levante informações – diz Vargas.


CRIME NA PONTE: POLICIAIS PARAGUAIOS ASSISTIRAM A TUDO SEM FAZER NADA

ZERO HORA 13/01/2013 | 20h35

"Os policiais paraguaios assistiram a tudo sem fazer nada", conta marido de gaúcha morta em assalto no Paraguai. Família faz apelo para polícia brasileira auxiliar na investigação


Diego Freitas, marido da gaúcha morta durante assalto no ParaguaiFoto: Diogo Zanatta / Diogo Zanatta
Marielise Ferreira


Ainda chocado com a morte da mulher Noiara Bonatto, o veterinário Diego Freitas concedeu uma entrevista coletiva durante o velório, na tarde de domingo, em Passo Fundo, no norte do Estado.

Noiara foi atingida por um tiro no abdômen quando o casal cruzava a Ponte da Amizade em direção a Ciudad Del Este, onde fariam compras. Ele criticou a polícia paraguaia, e fez um apelo à polícia brasileira para que se faça justiça.

Zero Hora — Qual foi a reação de vocês ao assalto?

Diego Freitas — Não reagimos em momento algum. Ele atirou e só depois anunciou que era um assalto. Eu me preocupei em socorrer a Noiara e só depois fiquei sabendo que o outro casal tinha sido assaltado. O cara chegar ali, deste jeito e matar, é lamentável, uma coisa inexplicável o que ocorreu lá.

Zero Hora — Vocês foram atendidos pela polícia naquele momento?

Freitas — Policiais paraguaios estavam lá e nem deram bola. Não fizeram questão nenhuma de ajudar. Nem mesmo a socorrer a Noiara, assistiram a tudo sem fazer nada. E agora eles é que vão investigar, porque tinha passado 10 metros pro lado do Paraguai. E o Paraguai vai fazer alguma coisa?

Zero Hora — Como a família vai acompanhar as investigações?

Freitas — O rapaz que atirou voltou para o Brasil, os bandidos são brasileiros. Nós falamos com o prefeito de Foz do Iguaçu, que nos deu assistência, auxiliaram com o translado e prometeram que a Polícia Civil e Polícia Militar da cidade tomariam providências para acompanhar e auxiliar nas investigações. Tudo o que a gente quer é justiça.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - E os policiais brasileiro que vigiam a Ponte da Amizade fizeram o que?  Esta caso escancara a insegurança nas fronteiras e as péssimas relações internacionais entre as polícias dos dois Países.

domingo, 13 de janeiro de 2013

CRIME NA FRONTEIRA


Criminoso estava a pé e não anunciou o assalto, diz companheiro da vítima Reprodução/Facebook
ZERO HORA, AGÊNCIA ESTADO 12/01/2013 | 14h02

Turista gaúcha é baleada no lado paraguaio da Ponte da Amizade. Noiara Elisabete Bonatto de Souza, 27 anos, foi alvejada por um motociclista e está no hospital em estado grave

Foi tudo muito rápido. Por volta das 6h deste sábado, um casal de gaúchos caminhava na Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu, no Paraná, a Ciudad del Leste, no Paraguai. O corona de uma motocicleta passou e atirou em Noiara Elisabete Bonatto de Souza, 27 anos.

Ela foi atingida na barriga e socorrida por um outro casal. A mulher foi levada para Foz do Iguaçu, no Hospital Ministro Costa Cavalcanti, e, posteriormente, para o Hospital Municipal. Ela está na unidade de Tratamento Intensivo (UTI) se recuperando de uma cirurgia, e o estado é grave.

As informações foram passadas pelos agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do posto da cidade paranaense na cabeceira da Ponta da Amizade. Ela faz parte de uma excursão que viajou de Passo Fundo para fazer compras no Paraguai.

Segundo a polícia, três homens deram voz de assalto e passaram a atirar. O tiro acertou Noiara e o grupo perdeu ainda R$ 4 mil. Após o assalto, os rapazes escaparam em garupas de mototaxistas em direção ao Brasil.

As placas foram registradas pela polícia brasileira e as buscas já estão em andamento na região de Foz. Como o tiro foi disparado já do lado paraguaio, a investigação ficará por conta da Polícia Nacional Paraguaia.


Criminoso estava a pé e não anunciou o assalto, diz companheiro da vítima

Diego Freitas, 34 anos, conta que Noiara Elisabete Bonatto de Souza, 27 anos, e ele foram surpreendidos e não puderam reagir


Matheus Beck | Marielise Ferreira

As últimas horas ainda não foram assimiladas pelo veterinário Diego Freitas, 34 anos, morador de Passo Fundo. Na manhã deste sábado, ele assistiu a companheira Noiara Elisabete Bonatto de Souza, 27 anos, ser atingida por um tiro em um assalto na Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu, no Paraná, a Ciudad del Leste, no Paraguai. À tarde, por volta das 16h, ouviu dos médicos que ela não havia reagido à cirurgia e morreu.

Segundo Freitas, o tiro foi desferido por um homem que estava a pé. Ele teria seguido o casal e mais um grupo de turistas do lado brasileiro ao paraguaio. Ao ultrapassá-los, virou e disparou a arma, atingindo o abdômen de Noiara.

— Ele andou um a dois metros, virou e atirou. Não anunciou o assalto. Somente depois que soube que ele teria levado R$ 4 mil dos outros turistas gaúchos — explica Freitas.

Conforme o veterinário, testemunhas teriam visto outros dois homens em motocicletas participando da ação. Atordoado, ele diz ter apenas visto o homem dar a volta e fugir correndo para o lado brasileiro.

— O policiamento de lá é zero. Um policial teve má vontade até mesmo de ajudar a carregá-la — indigna-se.

Foram os conterrâneos do município de Getúlio Vargas que ajudaram o casal. Eles carregaram Noiara para o lado paraguaio e colocaram-na em uma van para transportá-la ao Hospital Ministro Costa Cavalcanti. Depois, ela ainda foi transferida para o Hospital Municipal de Foz do Iguaçu

De acordo com a assessoria do hospital, a bala atingiu a artéria ilíaca, compromentendo diversos órgãos importantes. Mesmo com a cirurgia de reparação, ela não resistiu ao ferimento.

Noiara havia guardado o salário do mês e o 13º salário para comprar presentes e artigos para a casa. Ela trabalhava como vendedora em uma loja em Passo Fundo e morava com o companheiro. Tinha uma filha de sete anos do primeiro casamento.

Familiares da jovem deixaram Passo Fundo na manhã deste sábado em direção a Foz do Iguaçu. Freitas aguarda a chegada de todos para definir o transporte do corpo para o Rio Grande do Sul e os detalhes do velório.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O bandido atirou e fugiu de moto para o lado brasileiro onde, provavelmente, não haviam policiais de vigia e nem meios para impedir a fuga. É mais um caso revelando que controle, vigilância, policiamento e barreiras não existem nas nossas fronteiras.

sábado, 12 de janeiro de 2013

OS NOVOS DONOS DO TRÁFICO

REVISTA ÉPOCA, 22/11/2012 15h53

Quem são os homens que, fora ou dentro da cadeia, controlam o crescente comércio de drogas no Brasil – e imprimem gestão empresarial a seus negócios ilícitos

HUDSON CORRÊA, DA BOLÍVIA E DO PARAGUAI, E LEONARDO SOUZA



O jipe Cherokee preto, blindado, com placa número 0001, começou a ser seguido pela Polícia Federal (PF) nas ruas de São Paulo em meados de 2001. Seu condutor, o paranaense Luiz Carlos da Rocha, um homem de meia-idade, pele clara e cabelos grisalhos, era monitorado pela PF por suspeita de envolvimento com o narcotráfico. Passados dez anos, a polícia não tem mais a menor dúvida sobre as atividades de Cabeça Branca, apelido pelo qual Luiz Carlos é conhecido. Como sua placa prenunciava uma década antes, ele é considerado hoje, aos 52 anos, o número um de uma lista dos maiores barões da droga no Brasil.

Cabeça Branca e outros grandes traficantes investigados pela PF – Jarvis Chimenez Pavão, Lourival Máximo da Fonseca, Maximiliano Dourado Munhoz Filho, José Paulo Vieira de Melo e Irineu Domingo Soligo – representam uma nova geração do narcotráfico. Num estilo diferente de traficantes do passado, como Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, conhecidos por atos de violência e afronta escancarada às autoridades públicas, os novos donos do tráfico atuam de modo mais discreto. Eles não deixam de ser violentos. Quando julgam necessário, mandam matar. Mas não integram facções criminosas nem mantêm “exércitos” armados que desafiam a polícia.

(Foto: reprodução, Otimex/Xinhua/Cor/Clj, Governo do Estado de MT, AP, arq. Folha de Rondonia e Newscom )

Preferem atuar como homens de negócios e comandam, foragidos ou dentro da cadeia, verdadeiras redes empresariais da droga. Eles cruzaram as fronteiras de nações vizinhas, se instalaram por lá e, com a proteção de autoridades locais corruptas e diante da leniência do Estado brasileiro, inundam as cidades do país todos os anos com toneladas de cocaína e pasta-base de coca, a matéria-prima para a produção do crack – o entorpecente que mais mata hoje no Brasil. De suas bases montadas no Paraguai, na Bolívia, na Colômbia e até mesmo na Venezuela, terceirizam boa parte dos serviços, como o refino da coca, a remessa e a distribuição da droga no Brasil.

“O tráfico de drogas nunca vai acabar. Podem prender dez Fernandinhos (Beira-Mar). Dez não sei quem. Dez Pavão. Não adianta”, disse a ÉPOCA Jarvis Chimenez Pavão, apontado pela PF como o segundo maior traficante do país. “O Paraguai todo é território do tráfico.” Pavão recebeu a reportagem na penitenciária de Tacumbu, em Assunção, a maior do Paraguai, de onde, segundo a PF, continua a controlar o comércio de drogas para o Brasil. Durante três meses, ÉPOCA realizou um extenso levantamento sobre a vida desses grandes traficantes. Consultou processos judiciais, entrevistou policiais e advogados, visitou cidades dos dois lados da fronteira e constatou que as palavras de Pavão não são uma mera bravata.

Alguns indicadores oficiais sugerem que as drogas estão entrando no Brasil em quantidades cada vez maiores. No relatório mundial sobre drogas divulgado em junho deste ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) destacou a crescente apreensão de narcóticos no Brasil. O país foi o recordista de todas as Américas em volume de crack retido em único ano, com 374 quilos (em 2008). Nos Estados Unidos, foram apreendidos 163 quilos de crack. Houve também um aumento espantoso na quantidade de cocaína retirada de circulação em território brasileiro. Em 2004, foram retidas 8 toneladas. Seis anos depois, em 2010, o número saltou para 27 toneladas.

O governo difunde a versão de que as apreensões de cocaína aumentaram por maior eficiência das forças engajadas no combate ao tráfico – além da PF, o Exército e a Força Nacional de Segurança. Nos últimos anos, a PF ampliou sua atuação nas fronteiras. Fechou acordos de cooperação com as polícias do Paraguai e da Bolívia. Em conjunto com as forças paraguaias, passou a erradicar plantações de maconha. A polícia brasileira também fornece às autoridades paraguaias e bolivianas informações sobre traficantes brasileiros de cocaína em atuação nos países vizinhos. A PF, contudo, vê seu esforço minado por quatro fatores:
1. A remessa de drogas para o país aumentou consideravelmente nos últimos anos.
2. As polícias dos países produtores são corruptas e dão proteção aos traficantes, mesmo aos brasileiros instalados por lá.
3. O orçamento para o combate ao tráfico é estreito e ficou ainda menor em 2011.
4. A pressão do corpo diplomático brasileiro sobre os países vizinhos para coibir a produção de droga em seus territórios é tímida.





Para entender o novo modelo do narcotráfico brasileiro, é preciso voltar à manhã de 25 de abril de 2001, quando o traficante Fernandinho Beira-Mar desembarcou em Brasília, com olheiras e um ferimento provocado por um tiro no braço. Dias antes, ele fora capturado na selva colombiana durante uma operação que envolveu 3 mil soldados daquele país. Era o fim do reinado de cinco anos de Beira-Mar em território colombiano e também no Paraguai. O vácuo deixado por ele não tardaria a ser ocupado por novos megatraficantes.

A mensagem

Para as autoridades - O consumo de drogas cresce no país, mas os recursos para o combate ao narcotráfico diminuem

Para a diplomacia - A política externa vai ter de lidar com um problema cuja origem está além de nossas fronteiras 


Semanas após a prisão de Beira-Mar, a PF já estava no encalço de Cabeça Branca. Foi nessa época que os policiais passaram a fotografá-lo pelas ruas de São Paulo – à distância, evitando ser notados. Em outubro daquele ano, os policiais federais fizeram a primeira apreensão de que se tem notícia relacionada a ele. Foram retidos em Tapurah, norte de Mato Grosso, 488 quilos de cocaína trazidos da Colômbia. O entorpecente estava com a quadrilha de Cabeça Branca, mas ele não chegou a ser preso. Fugiu para o Paraguai. Começava ali seu império nas terras do país vizinho, onde comprou uma série de fazendas, de acordo com o promotor de Justiça Antônio Ganacin Filho, de São Paulo.

O NÚMERO DOIS
Jarvis Pavão, na penitenciária de Tacumbu, em Assunção. Ele diz que o Paraguai virou território livre para o narcotráfico (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)

Três anos depois da apreensão em Mato Grosso, Ganacin denunciou Cabeça Branca e outras cinco pessoas pelo tráfico de 492 quilos de cocaína apreendidos em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. A cor imaculadamente branca da droga impressionou os policiais envolvidos na operação. O grau de pureza revelava que o pó fora trazido da Colômbia e não ficaria no Brasil. Seria exportado para a Europa. De acordo com a investigação, a cocaína foi transportada num bimotor Beech Aircraft, pertencente a Cabeça Branca, até uma fazenda em Mato Grosso. Da propriedade, seguiu de carreta, onde foi escondida sob toneladas de arroz, até o interior paulista. De lá, seria levada ao Rio de Janeiro, oculta entre sacas de açúcar, se não tivesse sido retida pela polícia.

Àquela altura, a quadrilha de Cabeça Branca já operava no Rio de Janeiro. Um ano após o episódio do interior paulista, a PF apreenderia 1.691 quilos de cocaína em um mercado na Zona Norte carioca, em setembro de 2005. Foi a maior apreensão da história da cidade, conhecida por suas favelas dominadas pelo tráfico. A droga estava escondida em buchos congelados de bovinos, que seriam enviados para Portugal e Espanha. Mas a PF não pôs as mãos em Cabeça Branca. Quem foi preso foi seu irmão Carlos Roberto da Rocha, o Tob. O número um do tráfico estava a salvo no Paraguai. 



Com dois mandados de prisão expedidos pela Justiça brasileira, Cabeça Branca também é foragido da polícia paraguaia. Cartazes de “Procura-se” foram espalhados pelas cidades do país vizinho. Segundo duas autoridades paraguaias ouvidas por ÉPOCA, a polícia só não o prende porque não quer. Elas revelaram não somente onde Cabeça Branca está, sem se preocupar em se esconder, como deram detalhes de sua rotina. Disseram que ele costuma circular entre suas fazendas em três caminhonetes pretas que sempre andam em comboio – ele usaria essa técnica para confundir adversários em caso de ataque. Cabeça Branca tem três propriedades rurais contíguas. São um pequeno território do narcotraficante em solo paraguaio, na região de Yby Yau, a 100 quilômetros da fronteira com o Brasil.
AUTORIDADE Numa foto de 2005, o traficante boliviano Huber Rivero, então prefeito de San Matías, caminha ao lado do então governador Blairo Maggi (Foto: Governo do Estado de MT)

De acordo com os inquéritos da PF, entre 2001 e 2005 foram apreendidas quase 3 toneladas de cocaína com integrantes da organização criminosa de Cabeça Branca. O volume valeria cerca de US$ 60 milhões. A maior parte seria enviada à Europa. De acordo com a Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul, Estado na fronteira com o Paraguai, Cabeça Branca “financia a compra de cocaína, a importação para o Brasil e cuida do preparo com aumento de volume com o batismo(mistura com outras substâncias). Guarda em depósito, transporta e revende a droga”. Em outra frente, segundo a Procuradoria, ele compra armas e as troca por drogas, provavelmente em transações com integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Fábio Ricardo Mendes Figueiredo, advogado de Cabeça Branca sediado em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, diz que ele nunca foi condenado pela Justiça e que tem obtido vitórias nos Tribunais Superiores contra as investigações da PF.


A PF nunca deixou de monitorar a quadrilha de Cabeça Branca. De 2005 para cá, identificou novas rotas usadas por ele para mandar a droga para o Brasil e para a Europa. Por questões estratégicas, a polícia mantém sigilo sobre suas atividades mais recentes. ÉPOCA apurou que um dos novos caminhos empregados pelo traficante é a Venezuela. De lá, por terra, a principal porta para o Brasil é o município de Pacaraimã, em Roraima, onde se encontra a reserva indígena Raposa-Serra do Sol. Segundo o secretário de Segurança Pública de Roraima, general Eliéser Girão Monteiro Filho, índios foram arregimentados pelos traficantes. Eles cruzam a fronteira e trazem mochilas carregadas de droga.


Como o tráfico é um negócio bastante rentável, Cabeça Branca, com o tempo, ganhou a companhia de mais traficantes brasileiros do outro lado da fronteira. “Eles instalaram bases de apoio no Paraguai e na Bolívia, assim como passaram a manter estreito relacionamento com os chefes criminosos locais”, disse a ÉPOCA o adido da Polícia Federal em Assunção, Antonio Celso dos Santos. Até meados da década passada, o tráfico internacional de drogas promovido por brasileiros era marcado por uma guerra sangrenta entre grupos rivais em disputas por territórios e poder na fronteira. Beira-Mar foi acusado e condenado por assassinar o rival paraguaio João Morel em 2001, além de encomendar as mortes de dois filhos de seu desafeto. Hoje, no sistema de perfil mais empresarial dos novos traficantes, os conflitos armados foram aparentemente contornados com a divisão de territórios entre as organizações criminosas.

Os comerciantes de drogas não tiveram muito trabalho para se acomodar no Paraguai. Encontraram um território aberto. Entrar e sair do país é tão fácil quanto trocar de calçada. Em Ponta Porã, basta atravessar uma rua para entrar em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia com 100 mil habitantes. Ao longo de 1 quilômetro na faixa de fronteira, é possível fazer um zigue-zague de carro ou a pé entre as cidades sem encontrar um policial sequer. O único incômodo são vendedores ambulantes com bolsas a tiracolo oferecendo maconha, munição para armas e uma versão paraguaia do Viagra.


O tráfico de drogas movimenta US$ 100 milhões por mês em Pedro Juan Caballero, afirmam autoridades paraguaias ouvidas por ÉPOCA. Ao menos dez aviões chegam à cidade por semana. Cada um deles carregado com mais de 300 quilos de cocaína. No dia 5 de agosto, a reportagem de ÉPOCA estava em Pedro Juan Caballero. No início daquela noite, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, chegou à cidade. De casaco preto e calça social, Lugo estava rodeado de dezenas de seguranças, ao participar de uma solenidade de entrega de computadores para estudantes. Ao ser abordado, ele se esquivou de responder a uma pergunta sobre a atuação impune de narcotraficantes em seu país. “Outro dia”, limitou-se a dizer. Após a solenidade na escola, Lugo se dirigiu a uma praça aberta. Assistiu por mais de duas horas a uma apresentação musical que fazia parte das comemorações do bicentenário da independência paraguaia. Outra personalidade ilustre presente às comemorações na cidade era o traficante Carlos Ruben Sanchez Garcete, o Chicharo, que opera enviando maconha para o Brasil e a Argentina, segundo a PF. Ele circulava em um BMW livremente pelas ruas de Pedro Juan.



Chicharo é ligado ao gaúcho José Paulo Vieira de Melo, de 42 anos, conhecido como Paulo Seco, preso no Uruguai há um ano e três meses. Ele é acusado de traficar para o Brasil cerca de 1 tonelada de cocaína, apreendida em operações policiais. Paulo Seco é apontado pela PF como o sucessor dos negócios de Fernandinho Beira-Mar no Paraguai. “Com a prisão do conhecido traficante Ney Machado (em 2001) pelo Exército colombiano, Paulo Seco assumiu o comando da organização criminosa em Capitan Bado, Paraguai”, informa um documento da Procuradoria da República no Rio Grande do Sul. Machado, conhecido como Pitoco, era o braço direito de Beira-Mar. Segundo a PF, Paulo Seco montou uma “base de operação” em Ciudad del Este, Paraguai, na fronteira com o Paraná. Aprimorou então o esquema de Beira-Mar para traficar drogas em pequenas aeronaves. Elas viajam do Paraguai até o Rio Grande do Sul e arremessam pacotes de cocaína em fazendas próximas à fronteira com a Argentina.

Esse esquema empresarial montado pelos novos barões da droga permite que eles comandem o tráfico mesmo presos. É o caso de Jarvis Chimenez Pavão, de 43 anos. Depois de Cabeça Branca, ele é considerado o traficante mais poderoso. Preso em Assunção desde 2009, Pavão continuou a comandar o envio de aviões carregados com cocaína para o Brasil, segundo relatório da Operação Matriz, da Polícia Federal, a que ÉPOCA teve acesso. Ele usava um celular para se comunicar com traficantes no Brasil, diz a PF, que captou as conversas por meio de escutas autorizadas pela Justiça.

Da cadeia em Assunção, o número dois do tráfico mandou matar, por R$ 50 mil, um de seus gerentes que desviava dinheiro da quadrilha, de acordo com a investigação. “Esse cara é um sem-vergonha. Onde já se viu mexer em dinheiro meu?”, disse Pavão, durante conversa com um comparsa que estava no Brasil, captada no dia 9 de abril de 2010. Fazia pouco mais de três meses que o traficante estava no presídio Tucumbu. A conversa prosseguiu. “A parada é o seguinte: 50 contos. 50 contos aí a cabeça desse sem-vergonha”, disse Pavão. Três meses depois, o gerente foi morto a tiros no Rio Grande do Sul.
COMBATE
Um agente da PF vigia incineração de drogas em São José do Rio Preto, São Paulo. O orçamento de repressão ao tráfico diminuiu (Foto: Carlos Chimba)

Mesmo atrás das grades, Pavão conseguia a façanha, segundo a PF, de enviar todo mês meia tonelada de pasta-base de cocaína para o Brasil, carga avaliada em R$ 5,5 milhões. Em comum, Pavão e Paulo Seco têm o mesmo advogado, João Manoel Armoa. Ele afirma que não há provas de que os dois sejam traficantes. “Nunca pegaram um avião do Paulo. Ele não tem patrimônio para ter movimentado esse volume, 1 tonelada de cocaína”, diz. “A condenação de 18 anos de Pavão foi à revelia pela Justiça em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Ele é um pecuarista no Paraguai e planta soja. Não tem prova de que esteja envolvido nos crimes relatados na Operação Matriz.” Uma importante vitória judicial de Pavão ocorreu em setembro de 2010. A Justiça paraguaia absolveu seu filho, José Martinez Mendi Pavão, acusado de traficar 120 quilos de cocaína. Os três juízes que deram a sentença renunciaram ao cargo em maio passado, depois de ter sido acusados pela Justiça paraguaia de favorecer o filho de Pavão.

Por essas situações de impunidade, o senador paraguaio pelo Partido Liberal Radical Autêntico Roberto Acevedo, de 46 anos, e seu ex-assessor Ramon Cantaluppi Arévalos afirmam estar desiludidos com a luta contra o narcotráfico no Paraguai. Eles dizem ser uma causa perdida por causa da proteção que os traficantes recebem de autoridades corruptas do país. Os dois carregam ferimentos dessa guerra. Sofreram atentados atribuí­dos a narcotraficantes. Acevedo levou um tiro no braço e outro de raspão na cabeça em abril de 2010. “Minha vida não é vida. É um cárcere. Um policial precisa levar meu filho de 12 anos para a escola”, diz o senador. Arévalos foi alvejado com 14 tiros de pistola 9 mm. Ele diz que só se salvou porque o tiro final, disparado em direção a seu coração, foi bloqueado pelo celular que levava no bolso. “A máfia do narcotráfico virou uma empresa. Encontrou um Estado muito vulnerável”, diz Arévalos. Ele perdeu a perna direita no atentado.

Os megatraficantes também mandam na fronteira com a Bolívia. A principal cidade brasileira de entrada da cocaína é Cáceres, em Mato Grosso. O delegado federal Dennis Maximino do Ó exibe os números ascendentes de apreensão da droga. Lá, em sete anos, o volume de cocaína retida saltou de 100 quilos (2003) para 1.400 quilos (2010). A cerca de 80 quilômetros de Cáceres está a cidade boliviana de San Matías. Com ruas sem asfalto e casas com pintura descascada, destaca-se na paisagem a mansão do ex-prefeito Huber Velardi Rivero, de 47 anos. A casa ocupa quase uma quadra, com uma grande piscina escondida atrás de um muro de 3 metros de altura.


Rivero e seu irmão Adan Ademilson podem ser chamados, segundo a Polícia Federal, de barões bolivianos do tráfico. A Procuradoria da República em Mato Grosso denunciou os dois à Justiça Federal por fazer parte de uma quadrilha com a qual foram apreendidos 913 quilos de cocaína e quase meio milhão de dólares em junho de 2009. Na época, quando Rivero ainda era prefeito de San Matías, a prisão dele e do irmão foi decretada pela Justiça Federal brasileira.

Os mandados de prisão foram expedidos com o argumento de que há dificuldades para que acusados de crimes no Brasil sejam interrogados na Bolívia, principalmente se forem bolivianos.


Rivero costumava se encontrar com o então governador de Mato Grosso, o hoje senador Blairo Maggi (PR), um dos maiores produtores de soja do mundo, em eventos públicos que debatiam a integração econômica entre o Brasil e a Bolívia. Rivero acabou oficialmente fora da política depois que as acusações atingiram sua imagem. Procurado por ÉPOCA, ele negou qualquer envolvimento seu e do irmão com o narcotráfico. A Procuradoria da República afirma que denunciou os dois por tráfico de drogas, mas que os mandados de prisão não estão mais em vigor.

Somente no final do governo Lula, a Polícia Federal começou a estabelecer uma parceria mais estreita com as autoridades bolivianas. O principal resultado foi a prisão de Maximiliano Dorado Munhoz Filho, o Max, de 39 anos, em dezembro passado. Max é responsável por mandar todo mês meia tonelada de pasta-base de cocaína para o Brasil, que pode valer até R$ 9 milhões em São Paulo, diz o delegado da Polícia Federal Carlos Rocha Sanches. A prisão de Max foi uma vitória porque a Justiça boliviana determinara sua extradição para o Brasil em 2004. Ele permaneceu livre seis anos no país vizinho, ostentando alto padrão de vida em Santa Cruz de La Sierra, onde mantinha um patrimônio avaliado em até US$ 7 milhões. Pagava propina a autoridades bolivianas para não ser incomodado. A extradição não significou o fim da linha para os negócios de sua família. Seu irmão Ozzie Dorado Lozado Hanna permanece em liberdade na Bolívia.
COMÉRCiO
Avenida de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, que faz fronteira com o Brasil. O tráfico movimenta US$ 100 milhões por mês na cidade (Foto: Rosane Marinho/Folhapress)

O plantio da folha de coca na Bolívia cresceu significativamente durante o governo do presidente Evo Morales, ele próprio um ex-cocaleiro. Sob o argumento de que a folha, mascada pela população local num hábito secular, não é droga, ele anunciou em 2006 a ampliação da área plantada de 12.000 para 20.000 hectares. Hoje, ela está em 30.900 hectares. Evidentemente, quanto maior o plantio, maior a produção de cocaína. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 66% da folha de coca boliviana, incluindo a plantada legalmente, é desviada para o narcotráfico. Pelos dados da Força Especial da Luta Contra o Narcotráfico (Felcn), principal braço antinarcóticos da Bolívia, de 70% a 90% da cocaína e da pasta-base de coca produzidas naquele país são enviadas para o Brasil. Segundo a ONU, o Brasil se tornou a principal rota de trânsito nas Américas para o envio de droga para a Europa. O número de casos que envolveram o Brasil nesse quesito subiu de 25 em 2005, somando 339 quilos de cocaína, para 260 em 2009, quando foi apreendida 1,5 tonelada de pó.

Na contramão do aumento de apreensões, o governo Dilma Rousseff reduziu os recursos para a Polícia Federal. As associações de entidades de classe da PF (delegados e peritos) enviaram no mês passado uma carta ao Congresso, em que pedem ajuda aos parlamentares. Segundo os policiais, o Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da PF (Funapol) sofreu um corte de 28% neste ano. Os gastos com diárias, transporte, hospedagem e alimentação de policiais em missão ou operações oficiais custeados pelo Funapol foram limitados a R$ 58 milhões, uma redução de 35% em relação ao ano passado. São justamente dessas e de outras rubricas afins, também cortadas, que saem boa parte das operações especiais de combate ao tráfico.

Apesar da pressão da PF por mais recursos para o combate ao narcotráfico, a atual gestão da política externa brasileira tende a atenuar a gravidade do problema que representa o aumento no plantio de folha de coca na Bolívia patrocinado pelo presidente Evo Morales. Para o Itamaraty, se houve crescimento do narcotráfico e se há presença de brasileiros comprando e enviando drogas da Bolívia para cá, trata-se de uma mera questão de polícia. “A eventual participação de brasileiros em atividades ilícitas é tratada como parte de uma cooperação policial”, diz um comunicado do Itamaraty.


Candidato derrotado no segundo turno das eleições presidenciais no ano passado, o tucano José Serra acusou o governo de Evo Morales de ser “cúmplice” e de fazer “corpo mole” contra o narcotráfico. Serra trouxe para o debate político um problema que não foi encarado com senso de urgência nem pelo ex-presidente Lula nem agora pela presidente Dilma. Eles nunca pressionaram o governo Morales a tomar providências mais enérgicas sobre a produção e a “exportação” de cocaína. Em março, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a que a Polícia Federal está subordinada, foi à reunião da Comissão Mista Brasil-Bolívia sobre Drogas em La Paz. Cardozo aproveitou para sobrevoar a região do Chapare, na região central da Bolívia, berço político de Evo Morales e uma das zonas com maior produção de folhas de coca. Na ocasião, Cardozo anunciou a liberação de US$ 100 mil para a Bolívia aplicar na luta contra a cocaína. Quase seis meses depois, o Itamaraty informa que o dinheiro ainda não foi liberado devido à burocracia brasileira.

No caso do Paraguai, o Itamaraty mencionou a existência de uma comissão formada por autoridades dos dois países para discutir acordos e trabalho conjunto contra o narcotráfico. A última reunião ocorreu há mais de um ano no Paraná. Em 23 anos de existência, foram realizados apenas quatro encontros. Há um fundo com US$ 5 milhões dos cofres brasileiros para ampliar a luta contra o tráfico dentro do país vizinho, mas nenhum centavo foi liberado até hoje por falta de projeto. A letargia brasileira se estende também à Venezuela. O Brasil não mantém “reuniões com autoridades de alto nível” do governo de Hugo Chávez para tratar de tráfico de drogas, informa o Ministério das Relações Exteriores. Por mais de um mês, ÉPOCA pediu informações ao Ministério da Justiça sobre as ações contra o narcotráfico. Solicitou também uma entrevista com o ministro José Eduardo Cardozo. Como num resumo da atenção que o governo Dilma dá ao combate ao narcotráfico, a assessoria e o ministro preferiram o silêncio.