domingo, 31 de agosto de 2014

REDE DE PROTEÇÃO BURLAVA A SEGURANÇA DA FRONTEIRA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2336 | 29.Ago.14


As visitas de Abdelmassih ao Brasil. Enquanto esteve foragido, ele veio ao País e até participou de um churrasco em Jaboticabal (SP). O MP apura como funcionava a rede de proteção ao ex-médico



Raul Montenegro



Capturado no Paraguai após mais de três anos foragido depois de ser condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres, o ex-médico Roger Abdelmassih teve apoio de uma ampla rede de proteção enquanto esteve foragido. Manteve contato com parentes, amigos e até com um psiquiatra de São Paulo com quem ele e a mulher, a ex-procuradora Larissa Sacco, fizeram terapia de casal durante a estada no Exterior. Tinha tanta segurança de que não corria perigo de ser pego que visitou regularmente o Brasil nesse período. O porto seguro era Jaboticabal (SP), terra natal de Larissa. Segundo as investigações iniciais, o casal usou uma casa num pacato bairro do município para se encontrar com a família quando já viviam no Paraguai. Elaine Sacco, cunhada do ex-médico, manteve o imóvel alugado entre 23 de março de 2012 e 15 de fevereiro de 2013. ISTOÉ apurou que Abdelmassih participou, inclusive, de um churrasco para 15 pessoas no local em 2012. O grupo de vítimas do ex-médico recebeu relatos semelhantes de moradores de Jaboticabal.


PORTO SEGURO
Elaine Sacco, cunhada de Abdelmassih, alugou por um ano a casa
onde ele participou de um churrasco para 15 pessoas em 2012



As pessoas mais próximas também operavam uma diversificada engenharia financeira para permitir que a fortuna acumulada pelo ex-médico no Brasil cruzasse a fronteira. Abdelmassih recebeu, por exemplo, recursos de Ruy Marco Antônio, ex-dono do Hospital São Luiz, em São Paulo. Mas o Ministério Público (MP) suspeita que a maior parte dos repasses se dava por outras duas frentes. A primeira envolvia grandes quantidades de dinheiro em espécie, escondido provavelmente em São Paulo e Jaboticabal. O MP trabalha com a hipótese de que os valores eram intermediados pela cunhada Elaine e por Maria Stela Abdelmassih, irmã do ex-médico. Era notório que ele aceitava pagamento em dólares na sua clínica. A investigação aponta que funcionários da família faziam o transporte até o Paraguai.

A segunda envolvia um esquema de lavagem de dinheiro. Uma das empresas por trás da rede seria a Colamar, aberta no nome de Larissa e controlada por Elaine, que teria como objetivo remeter, às escondidas, recursos para o casal. Uma das suspeitas do MP recai sobre negociações feitas em 2010 entre a Colamar e uma produtora de frutas de Bebedouro (SP). A produtora destinou ao menos R$ 5,2 milhões à companhia dos Abdelmassih. Também está na mira do MP um banco paulistano dono de fazendas que pertenceram ao condenado. A transferência de propriedade foi feita em 2009, às vésperas da condenação, mas até hoje a instituição não passou as terras adiante. Usadas para o cultivo de laranjas, elas demandam uma expertise que não faz parte das atividades de um banco. A promotoria ainda investiga o caso, e os envolvidos poderão responder por lavagem de dinheiro, falsidade documental e favorecimento pessoal. ISTOÉ procurou Maria Stela e Elaine, mas elas não se pronunciaram.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

OS NOVOS IMIGRANTES SOB A AMEAÇA DOS COIOTES

ZERO HORA 18/08/2014 | 05h01

Traficantes de pessoas chegam a cobrar US$ 2 mil para trazer haitianos, que também sofrem extorsão de policiais e taxistas no Peru e na Bolívia. Rede de corrupção inclui venda de vistos e outros documentos falsificados

por Carlos Rollsing e Humberto Trezzi


"Por sorte, eu tinha dinheiro, mas muitos haitianos que ficam na mesma situação são obrigados a passar fome", diz RoldyFoto: Diego Vara / Agencia RBS


Falar com os novos migrantes radicados no Rio Grande do Sul (personagens de reportagem especial publicada na ZH deste domingo) também é colher testemunhos de um martírio. Quase todos penaram no caminho até o Brasil, sobretudo os que ingressaram pelo Acre, na fronteira com o Peru. São frequentes os relatos de extorsão por parte de coiotes – traficantes de seres humanos – e da polícia estrangeira, além de casos de estupro.

Wilkenson Samsom, 19 anos, vive com o pai em Encantado. Ambos trabalham em frigorífico da Dália Alimentos. Para realizar o sonho da vida melhor, o jovem teve de pagar US$ 300 a coiotes e policiais peruanos. Situação semelhante ocorreu com Roldy Julien, 25 anos, presidente da Associação Haitiana de Encantado. Ele fez a rota da maioria dos seus compatriotas: foi até Quito, no Equador, e lá tomou um ônibus que atravessou parte do país, ingressou no Peru e chegou até a fronteira do Brasil, entrando pelo Acre.

No Peru, com quatro amigos, foi extorquido duas vezes. Na primeira, o quarteto teve de pegar 500 sóis (moeda peruana) e mais US$ 300. Receberam um salvo-conduto. Dias depois, perto do Brasil, foram abordados novamente. Veio a notícia de que o papel que tinham em mãos já não valia mais. Dessa vez, Julien foi forçado a pagar sozinho a quantia de US$ 200. Seu passaporte ainda ficou apreendido por uma semana, tempo em que ele precisou se desdobrar com o dinheiro que lhe restava para garantir teto e comida.

— Não sei se tem ladrão no Peru. Mas parece que a polícia é pior — desabafa Julien, que, no Rio Grande do Sul, perdeu três dedos da mão direita em um acidente de trabalho.


Os relatos se repetem desde 2010, quando explodiu a nova imigração para o Brasil. Em maio de 2011, 20 haitianos recorreram à Polícia Federal em Tabatinga (AM), denunciando um compatriota deles chamado Repert Julien, 28 anos, que teria descumprido promessa de hospedagem paga por eles. Em 5 de julho daquele ano, os federais prenderam Julien, que cobrava até US$ 2 mil para trazer haitianos do Peru ao Brasil. Foi o primeiro inquérito de uma série.

No Acre, foi preso em abril de 2013 o jogador de futebol haitiano Innocent Olibrice, quando tentava embarcar no aeroporto de Rio Branco um garoto de 13 anos, haitiano, para Macapá (AP). Innocent, que atuava num time acreano e foi solto cinco dias depois, responde a processo judicial por tráfico de pessoas e estelionato. De acordo com as investigações da PF, o atleta está envolvido numa rede de coiotes. Ele foi contratado pela família do menino para encaminhá-lo à Guiana Francesa ao custo de 500 euros (o equivalente a cerca de R$ 1,5 mil).

Innocent negou a acusação, mas é processado. A pena para o tráfico é de um a três anos de reclusão e expulsão do país.A socióloga Letícia Mamed entrevistou centenas de migrantes no Acre e constatou: a fuga em razão da falta de trabalho, educação, saúde, habitação e segurança no seu país de origem impulsiona a migração, seja legal ou ilegal. No Haiti, por exemplo, esse negócio conta com despachantes, falsificadores, aliciadores e coiotes no processo de agenciamento. Relatos também informam existir naquele país a venda de vistos e outros documentos falsificados, inclusive supostas facilidades que prometem acelerar a viagem. Algo que aumentou após o terremoto de 2010.

Na viagem ao Brasil, os haitianos pagam entre US$ 2 mil e US$ 5 mil (valor semelhante ao cobrado de ganeses entrevistados por ZH em Criciúma e em Caxias do Sul). E são vítimas frequentes de extorsões praticadas por policiais e taxistas, sobretudo peruanos e bolivianos. Letícia estima que, de 2010 a 2014, os haitianos já teriam gasto cerca de R$ 6 bilhões em pagamentos à rede de tráfico e corrupção estruturada para chegar ao Acre.

E não só haitianos. Em torno de 16 diferentes nacionalidades já passaram pelo acampamento montado pelas autoridades acreanas na fronteira com o Peru. Todos mostram receio em falar sobre os contatos, a organização do percurso, os agentes contratados e a realização da viagem em si. E quando decidem falar sobre o assunto, geralmente as explicações são pactuadas pelo grupo antes da exposição ao interlocutor.





Empresas agilizam os vistos e arranjam emprego aos migrantes

A vigorosa migração de africanos e centro-americanos para o Brasil tem rendido lucros a dois tipos de empresas: as que se especializam em legalizar a situação dos imigrantes e as que prometem colocá-los no mercado de trabalho. O primeiro serviço é o mais urgente – sem ele, o forasteiro fica clandestino. O segundo é necessário para viabilizar financeiramente a permanência do estrangeiro no país. Esse tipo de intermediação é permitido pela lei.

Em Criciúma, maior polo de atração de ganeses para o Brasil, Zero Hora recebeu a informação de que uma das empresas que legaliza a situação de estrangeiros é a Fullvisa, de Brasília. O site da firma anuncia alguns dos serviços oferecidos: visto temporário para quem tem trabalho no Brasil, transformação do visto temporário em permanente, solicitação de permanência definitiva com base em casamento com brasileira (o). No item Nossa Visão, a Fullvisa não esconde a meta: “Atingir a liderança no mercado nacional de imigração de estrangeiros”.

Como a Fullvisa se localiza em Brasília, torna-se mais fácil e ágil a entrada, acompanhamento e eventuais visitas aos órgãos responsáveis pela análise dos pedidos de visto, uma vez que estes se encontram na Capital Federal – justifica a empresa, que atua há 10 anos.

Proprietário da Fullvisa, o administrador de empresas Charliston Ferreira admite que seu ganha-pão é a legalização de estrangeiros, mas nega que priorize a nova onda de migrantes africanos e centro-americanos. Trabalha mais com auxílio a empresas europeias e americanas que pretendem trazer seus funcionários para o Brasil, para pequenas ou grandes temporadas.

– Agimos como despachantes especializados em estrangeiros. Atuamos em processos administrativos junto ao Ministério do Trabalho, requisições de visto à Polícia Federal. Conseguimos legalizar a situação de algumas centenas por ano – diz Charliston, que aprendeu o ofício nos EUA.

Agência ganha a cada empregado

Outra empresa que atua na legalização de estrangeiros é a Overseas, com sede em São Paulo. O foco é em grandes empresas multinacionais que precisam estabilizar a vida de seus funcionários estrangeiros no Brasil, mas também legaliza novos migrantes caribenhos e africanos. Há poucos dias, a Overseas conseguiu agilizar vistos para 20 haitianos que atuam num supermercado e em duas firmas de construção civil. Foi contratada pelas empresas, não pelos migrantes.

– Prestamos consultoria, ensinamos os caminhos mais ágeis – resume Mateus Valério, gerente da Overseas.

Nem ele, nem o dono da Fullvisa revelam valores cobrados.


Fábrica de móveis contrata migrantes via agência que atua há 21 anos na Serra. Foto: Diego Vara, Agência RBS

O passo seguinte, para o migrante, é conseguir serviço. É aí que entram empresas como a Talentum, agência de empregos que atua há 21 anos na região serrana do Rio Grande do Sul. No ano passado, eles arranjaram serviço para 80 migrantes africanos e caribenhos. Foram trabalhar em indústrias de sucos, de móveis, autopeças e limpeza. O recrutamento e seleção exige que pelo menos um do grupo de migrantes fale português ou espanhol. Ele será o guia dos demais nas negociações de trabalho. E qual o ganho da Talentum?

– Cobramos do empresário que vai dar emprego aos migrantes 50% do primeiro salário de cada um dos novos empregados. É uma taxa padrão – informa Ricardo Soldatelli Borges, proprietário da Talentum, que é psicólogo e ajuda a fazer a triagem. – O valor não é deduzido dos contracheques.

Borges se orgulha dessa atividade e diz que desconhece reclamações quanto à qualidade do serviço prestado pelos migrantes:

– Com a presença dos estrangeiros, diminuíram as queixas quanto a faltas ao serviço e empregados doentes.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

ATAQUES A NAVIO NO PORTO DE RIO GRANDE

CORREIO DO POVO 01/08/2014 00:31

Ananda Müller/Rádio Guaíba

Polícia Federal abre inquérito para investigar ataques a navios no Porto de Rio Grande. Embarcações foram invadidas durante a madrugada desta quinta-feira



Invasão teria acontecido durante a madrugada
Crédito: Divulgação Polícia Federal / CP


A Polícia Federal (PF) abriu nesta quinta-feira inquérito para investigar dois ataques realizados contra navios atracados em águas próximas ao Porto de Rio Grande, no Sul do Estado. De acordo com nota divulgada pela assessoria da PF, o primeiro navio foi invadido por volta das 3h, à distância de 10 milhas além da barra. Conforme informações preliminares, alguns contêineres armazenados no interior da embarcação foram arrombados e embalagens de carne foram roubadas. A suspeita é de que os invasores tenham fugido em uma pequena embarcação.

O segundo caso foi registrado em um navio de bandeira espanhola que fazia o transporte de gás. O barco foi invadido pelos bandidos por volta das 5h, no Canal do Porto. A tripulação percebeu a presença dos invasores e o alarme foi acionado, momento em que os bandidos fugiram com o auxílio de cordas pela lateral do navio. O bando escapou também em uma pequena embarcação.

A Polícia Federal realizou a coleta de provas e impressões digitais, e deve ouvir a tripulação dos navios invadidos para tentar identificar os autores das ações criminosas. Além disso, as imagens das câmeras de segurança do Porto de Rio Grande devem ser solicitadas para auxiliar nas buscas aos suspeitos. A Polícia também não descartou que o mesmo grupo seja o autor dos dois ataques.