quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

HAITIANOS TENTAM ENTRAR NO BRASIL PELO ACRE



PF prende cerca de 100 haitianos que tentavam entrar no Brasil pelo Acre. JORNAL NACIONAL. REDE GLOBO, Quarta-feira, 18/01/2012

O grupo foi barrado antes mesmo de chegar à ponte que liga o Peru ao município acreano de Assis Brasil. O reforço na fiscalização da fronteira é parte de uma série de medidas anunciadas pelo governo brasileiro, na semana passada.

FFAA E PF REFORÇAM OPERAÇÕES


Forças Armadas e PF reforçam integração de operações contra o crime organizado e fiscalização das fronteiras - RADAR POLÍTICO, com informações da Agência Brasil. estadão.com.br - 19/01/2012

Em reunião realizada nesta quarta-feira, 18, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ministro da Defesa, Celso Amorim, anunciaram a implementação da parte estrutural das operações desenvolvidas em conjunto por militares e policiais federais. O plano é promover uma espécie de “sintonia fina” nas operações Ágata, de responsabilidade das Forças Armadas, e Sentinela, feita pela PF, ambas de segurança na fronteira.

Um dia depois do encontro com o ministro da Defesa da Colômbia, Juan Carlos Pinzón Bueno, para tratar da criação de um plano bilateral de fronteiras de combate ao crime organizado, os dois ministros brasileiros avaliaram, na reunião, que “a integração entre Forças Armadas e Justiça (ministério ao qual a PF é vinculada) tem sido excelente.”

Cardozo disse que visitará a Colômbia, juntamente com Amorim, para avaliar mecanismos de integração com o país no combate a organizações criminosas e na fiscalização das fronteiras.

A consolidação da indústria de defesa sul-americana e o tema do combate a organizações que praticam crimes transnacionais serão levados pelos ministros à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), na reunião de 3 e 4 de maio, na cidade colombiana de Cartagena.

O ministro da Defesa colombiano disse, no encontro desta terça-feira, 17, que a união entre o Brasil e a Colômbia tornará os dois países mais forte na luta contra o narcotráfico, tráfico de armas e explosivos.

Em novembro, após uma operação deflagrada pela PF, Cardozo criticou o modelo padrão de operação da PF. Na sua avaliação, o Plano Nacional de Fronteiras está “rigorosamente em dia”. “Acho muito ruim que se tenha uma operação-padrão nas fronteiras, francamente. Não posso entrar no mérito daquilo que entidades sindicais defendem, é um direito delas reivindicar. Acho que é o papel delas, e o papel do governo é avaliar o que é justo ou injusto, o que pode e o que não pode”, afirmou, ao participar da reunião da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla), em Bento Gonçalves (RS).

Em resposta, o ministro garantiu que o governo manterá em 2012, sem cortes, o calendário de investimentos em segurança pública e no Plano Estratégico de Fronteira em 2012. Isso inclui realização de concursos para contratação de mais de 3,9 mil pessoas nas Polícias Federal e Rodoviária, melhorias nas instalações físicas e pagamento da gratificação prometida aos policiais que atuam na fronteira.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A Polícia Federal, apesar da competência constitucional de exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras, nunca teve capacidade estrutural e operativa para atender com sucesso estas missões. Por este motivo as fronteiras brasileiras são uma peneira. Defendo a criação de uma POLÍCIA NACIONAL DE FRONTEIRAS para cumprir estas missões, deixando a PF para ações investigativas na apuração de delitos federais e internacionais. Quanto às forças armadas, estas jamais deveriam se envolver diretamente nas questões de ordem pública sem uma medida de exceção que salvaguarde suas ações. No máximo, as forças armadas poderiam ajudar na logística e na inteligência, e em situações específicas como a selva amazônica.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

IMIGAÇÃO - SOLUÇÃO TARDIA NO CASO DOS HAITIANOS


Solução tardia. Demora do governo brasileiro para enfrentar a imigração ilegal de haitianos resulta no fechamento emergencial da fronteira. Mas o problema está muito longe de acabar. Claudio Dantas Sequeira. REVISTA ISTOÉ N° Edição: 2201, 16.Jan.12 - 10:21

Dois anos após o terremoto que matou 225 mil pessoas e deixou 2,3 milhões de desabrigados, o Haiti voltou ao noticiário. Como quase sempre, pelos motivos errados. A onda de imigração ilegal de haitianos levou o governo brasileiro a impor, na semana passada, uma série de ações emergenciais. Entre elas, a exigência de visto de trabalho para os haitianos, o que na prática correspondeu ao fechamento da fronteira. As medidas foram tomadas tardiamente. A crise humanitária deflagrada no Acre pela presença de milhares de haitianos vivendo em condições precárias é um caso típico de tragédia anunciada. Desde o início de 2011, as autoridades sabiam da chegada dos desabrigados e da atuação criminosa de atravessadores.

Em reportagem publicada em março de 2011, ISTOÉ revelou que os coiotes cobravam até R$ 6 mil para trazer cada haitiano. A Polícia Federal já estava investigando o caso e, com base em depoimentos de agenciadores presos, conseguiu traçar as rotas utilizadas. A mais popular delas incluía a passagem por três países – República Dominicana, Equador e Peru – antes da entrada no Brasil. As cidades acrianas de Epitaciolândia e Brasileia tornaram-se os principais destinos. Segundo o chefe da Coordenação-Geral de Polícia de Imigração da PF, delegado Antonio Carlos Lessa, os esquemas mais bem organizados compreendem a colocação dos estrangeiros em subempregos, geralmente na cidade de São Paulo. “Eles são obrigados a trabalhar para pagar a viagem”, disse Lessa.

Embora a PF tentasse fechar o cerco aos coiotes, acionando adidos policiais e a Interpol, não pôde fazer muito em relação aos haitianos. O Itamaraty pediu informalmente que prisões e deportações fossem evitadas. Temia-se que uma ação truculenta causasse mal-estar diplomático com o Haiti, país que virou vitrine da atuação internacional brasileira por conta da missão de paz da ONU, a Minustah. O Brasil já gastou na operação mais de R$ 1 bilhão e mantém in loco um contingente de 2,2 mil militares.

A leniência da diplomacia foi um tiro no pé. Sem barreiras, o fluxo de haitianos aumentou vertiginosamente e o Ministério da Justiça chegou a contabilizar quatro mil ilegais. Mas esse número pode ser bem maior. A política de regularização, incentivada pela diplomacia, também serviu como estímulo aos imigrantes. Além da concessão de vistos, o governo agora debate uma forma de melhorar a assistência humanitária.

A questão de fundo foi mais uma vez deixada de lado. O que atrai os haitianos não é o “sonho brasileiro”, mas a simples necessidade de sobrevivência, ante a fome, o desemprego e as doenças que assolam seu país. Os esforços para a reconstrução do Haiti, pelos quais o governo jacta-se frequentemente, não parecem ter sido suficientes.

sábado, 14 de janeiro de 2012

COOPERAÇÃO CONTRA O TRÁFICO


OPINIÃO O Estado de S.Paulo - 14/01/2012


O aumento da movimentação em território nacional de drogas ilegais produzidas na Bolívia - e dali exportadas para serem consumidas no Brasil ou enviadas a outros mercados, especialmente Estados Unidos e Europa - não deixa dúvidas de que o problema não será resolvido sem a eficiente atuação do governo brasileiro no combate ao narcotráfico e, sobretudo, sem sua efetiva cooperação com governos de outros países.

A cooperação internacional, já relevante pelas dimensões do País e pelo fato de seu território ter sido escolhido pelos produtores sul-americanos para escoar a droga, tornou-se mais importante depois que os serviços de combate ao narcotráfico dos EUA e da Grã-Bretanha foram expulsos da Bolívia pelo governo de Evo Morales. Em 2008, movido apenas por seus preconceitos nacionalistas, Morales expulsou do país os agentes da DEA, a agência americana de combate às drogas, alegando que assim agia para assegurar à Bolívia "dignidade e soberania". Depois, proibiu a atuação no país de agentes do serviço de inteligência da Grã-Bretanha.

Essas medidas foram tomadas no momento em que, cada vez mais combatidos na Colômbia - que, mesmo assim, continua a liderar a produção na América do Sul -, os produtores de cocaína passaram a operar com mais intensidade na Bolívia. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNDCC), a área de cultivo da coca na Bolívia dobrou em dez anos. Parte da droga produzida na América do Sul passa por portos ou aeroportos brasileiros antes de chegar aos maiores mercados de consumo (Europa e EUA).

Por essas razões, o Brasil vem sendo cada vez mais estimulado a cooperar com os serviços de combate ao narcotráfico dos EUA e da Grã-Bretanha, como mostrou reportagem de Jamil Chade publicada no Estado (8/2). Documentos revelados pelo WikiLeaks mostram que, pelo menos desde 2009, a Embaixada americana em Brasília tem interesse em trabalhar em conjunto com o governo brasileiro para ter acesso à Bolívia em questões relativas ao combate ao narcotráfico. Recentemente, o Comitê de Relações Exteriores do Parlamento britânico informou que pretende "incentivar" as autoridades brasileiras a combater o narcotráfico. Em documento publicado em outubro, o Comitê disse que o Brasil tem papel "cada vez mais importante como líder regional em medidas contra as drogas".

A União Europeia considera que o governo Morales não conseguiu conter a expansão do cultivo da coca e da produção da cocaína na Bolívia nos últimos anos e vê a cooperação com o governo brasileiro como um meio eficaz de enfrentar o problema. O chefe de estratégia da agência britânica de combate ao crime organizado, Mark Bishop, disse no Parlamento de seu país que "os bolivianos parecem ter expressado uma preferência por colaborar com o Brasil, por isso os brasileiros devem ser incentivados a trabalhar com eles o máximo que puderem".

Brasil e Bolívia renovaram até 2013 o acordo bilateral de cooperação policial para o combate ao tráfico de drogas e se comprometeram a compartilhar informações e realizar treinamentos conjuntos para fortalecer suas políticas de repressão ao narcotráfico. Reuniões regionais promovidas pela Interpol têm sido realizadas para analisar a situação do tráfico de drogas na América do Sul e definir estratégias em áreas como produção e comércio (a mais recente ocorreu em novembro, em Buenos Aires). Há pouco mais de um mês os 11 países da União das Nações Sul-Americanas assinaram um pacto para o combate ao narcotráfico em cinco frentes, entre as quais a troca de informações e a criação de um centro regional de estudo do problema.

O governo brasileiro, de sua parte, afirma estar disposto a ampliar a cooperação internacional nessa área. "Só podemos combater o narcotráfico com a integração dos serviços de inteligência" dos países produtores, dos países de passagem e dos países receptores da droga, disse há algum tempo o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, ao participar de uma reunião sobre o tema em Paris. Agora, é urgente estabelecer essa integração na prática.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - De nada adianta fomentar uma cooperação entre os países vizinhos, se o Brasil não fizer a sua parte e continuar com políticas de segurança amadoras nas fronteiras, investindo em soluções paliativas, demagógicas, superficiais e midiáticas.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

HAITIANOS - BRASIL DECIDE FECHAR AS FRONTEIRAS


Brasil decide fechar as fronteiras aos haitianos. Eles só poderão entrar no país com visto concedido pela Embaixada em Porto Príncipe - LUIZA DAMÉ. O GLOBO, 10/01/12 - 18h09

BRASÍLIA- O governo brasileiro vai fechar as fronteiras aos haitianos, mas vai regularizar a situação dos que já estão no país e conceder 100 vistos mensais para que eles possam vir trabalhar no Brasil. A decisão foi tomada em reunião da presidente Dilma Rousseff, nesta terça-feira, com os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo; de Relações Exteriores, Antônio Patriota; da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, além do interino do Trabalho, Paulo Roberto dos Santos Pinto.

Nesta quinta-feira, o governo apresentará proposta de resolução ao Conselho de Migração do Ministério do Trabalho para que seja concedido visto de trabalho aos cerca de 4.000 haitianos que estão nos estados do Acre e Amazonas. Segundo Cardozo, cerca de 1.600 desses haitianos já têm visto. A partir da aprovação da resolução, os haitianos só poderão entrar no país com visto concedido pela Embaixada Brasileira em Porto Príncipe. Os "vistos condicionados" têm validade de cinco anos, período em que os haitianos terão de demonstrar que estão no país em busca de emprego.
O governo também vai reforçar a segurança na fronteira do norte do país e fazer gestões diplomáticas com os governos do Peru, do Equador e da Bolívia para desmontar a rota de migração dos haitianos e coibir a ação de coiotes. Cardozo disse que a expectativa do governo é aprovar a resolução nesta quinta-feira e publicá-la no Diário Oficial de sexta-feira.

- É uma forma de reconhecimento da situação econômica dessas pessoas. O Brasil tem uma política de direitos humanos e reconhecimento do problema no Haiti e, por isso, estamos fazendo isso. Mas não podemos concordar que seja uma situação sem nenhum controle - afirmou Cardozo.

O governo, por meio dos ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social, da Integração e do Trabalho, vai dar apoio aos governos do Amazonas e do Acre para atendimento aos haitianos.


Brasileia, no Acre, teme entrada massiva de imigrantes. Prefeita receia que número de haitianos aumente até que decisão seja publicada. MARCELLE RIBEIRO - O GLOBO, 10/01/12 - 23h46


SÃO PAULO - A prefeita de Brasileia (AC), Leila Galvão (PT), teme que até a publicação da decisão de fechar as fronteiras para os haitianos ocorra uma nova entrada massiva de estrangeiros no país. A prefeita, assim como o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, e o governo do Amazonas viram como positiva a medida anunciada pelo governo federal.

Brasileia é uma das cidades de fronteira que foram invadidas por haitianos no fim de 2011, depois que rumores sobre a possibilidade de o Brasil fechar a fronteira se espalharam entre os estrangeiros. Apenas nos três últimos dias do ano, cerca de 500 haitianos entraram na cidade.

Segundo a prefeita, atualmente há cerca de mil haitianos no município.

- Vai haver essa divulgação (da decisão do governo federal) e, se demorar mais cinco ou sete dias para oficializar, eles vão aproveitar esse tempo. O ideal é que a decisão seja publicada o quanto antes - afirmou a prefeita.

Para ela, a decisão da União foi um alívio.

- Os municípios de fronteira estão com dificuldade de atender a demanda que está chegando aqui. A cidade é pequena, não tem estrutura suficiente, e já temos problemas locais. Não conseguimos atender aos haitianos como gostaríamos. Estávamos angustiados, pois a cada dia chegam mais pessoas. É um alívio - afirmou Leila Galvão.

De acordo com a prefeita, em reunião na tarde desta terça-feira em Brasileia, a Polícia Federal anunciou que vai tomar medidas para agilizar o processo de regularização da permanência dos haitianos que já estão no Acre. Atualmente, eles têm que esperar meses até o visto humanitário ficar pronto, e ficam perambulando nas cidades de fronteira enquanto aguardam. Segundo a prefeita, a estimativa é que a autorização de trabalho fique pronta em cerca de dez dias.

Leila Galvão informou que, do dia 2 ao dia 9 de janeiro, 120 haitianos entraram no Brasil por Brasileia, o que sinaliza que o fluxo estava diminuindo se comparado ao final de 2011.

O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, disse que ainda não foi comunicado oficialmente da decisão da União, mas afirmou que colocar fim na migração desordenada é uma decisão correta.

- Isso vai obrigar os países a acelerarem o processo de reconstrução no Haiti. E o Brasil tem responsabilidade nisso, porque ele é líder na Minustah (missão de paz das Nações Unidas no Haiti). É preciso que a ONU e os demais países ajudem na reconstrução do país, que está lenta e devagar - afirmou Mourão.

Segundo o secretário, o governo peruano publicou ontem decisão exigindo visto para a entrada de haitianos no país. Na opinião de Mourão, por si só, a medida tomada pelos peruanos já deve causar a diminuição da entrada desses estrangeiros no Brasil, já que o Peru está na rota de entrada dos haitianos.

- De qualquer maneira, havendo haitiano no Acre, não importa a situação dele, o governo do estado fará o possível para dar atendimento humanitário - disse Mourão.

O governador do Amazonas, Omar Aziz, segundo sua assessoria de imprensa, também considerou positiva a decisão da União de fechar as fronteiras. Tabatinga, cidade do Amazonas que faz fronteira com a Colômbia e o Peru, registrou, apenas entre os dias 29 de dezembro e 2 de janeiro, a entrada de 208 haitianos.

- Temos hoje mais de 3.500 haitianos no Amazonas e também temos as demandas do nosso povo, que são enormes. Seremos solidários (com os imigrantes haitianos), mas é necessário que se tome uma decisão que não seja paliativa - disse Aziz, em nota.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

BOLA DA VEZ DA MIGRAÇÃO E ILEGAIS DESAFIAM A FRONTEIRA


Brasil é a bola da vez da migração. Números do governo federal demarcam um novo fluxo de entrada de estrangeiros no Brasil, seja para morar seja para trabalhar. O mais recente levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego reforça que 2011 já supera o contingente de 2010 - Patrícia Comunello, com agência Globo - 02/01/2012

Depois de duas décadas exportando mão de obra brasileira para o mundo, o Brasil volta a ser uma nação de imigrantes, resgatando uma característica de sua história que parecia perdida após anos de crises econômicas. Levantamento do Ministério da Justiça mostra que a quantidade de estrangeiros vivendo no Brasil - trabalhando, estudando ou simplesmente acompanhando seus cônjuges - superou, pela primeira vez em 20 anos, o número de brasileiros que deixam o País para viver no exterior pelos mesmos motivos.

Segundo o Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, o número de estrangeiros em situação regular no Brasil aumentou 52,4% no primeiro semestre de 2011, e continuou crescendo no segundo semestre do ano passado. Até junho, o Brasil tinha 1,466 milhão de estrangeiros contra 961.877 em dezembro de 2010. A concessão de vistos de permanência cresceu 67% de 2009 para 2010, enquanto os processos de naturalização dobraram: de 1.056 para 2.116.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) reforça o fluxo ascendente de pessoas com visto temporário para trabalho. De janeiro a setembro, 49.291 indivíduos estavam nesta condição ante 38.647 do mesmo período de 2010. O Rio Grande do Sul somou 710 emissões, ante 960 de todo 2010. Entre os perfis que são seduzidos para residir em território gaúcho estão pessoas da área artística e esportiva (36,3%), de assistência técnica, cooperação técnica e transferência de tecnologia sem vínculo empregatício (20,6%), assistência técnica por prazo de até 90 dias sem vínculo empregatício (17,6%) e especialista com vínculo empregatício (7%).

Para o engenheiro eletrônico colombiano Diego Goméz, o Brasil virou terra de oportunidades. Goméz veio para Porto Alegre em 2009 por meio do programa de intercâmbio da Associação Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Comerciais (Aiesec). Recém-formado em Bogotá, ele decidiu que iria ao exterior atrás de experiência e conhecimento para um dia voltar à sua terra e abrir seu próprio negócio. “Queria conhecer o que ocorria pelo mundo na minha área. Sair sem nada e voltar com muita coisa”, justifica o colombiano, hoje com 25 anos e que em 2010 obteve visto de trabalho na empresa onde começou como trainee. Colombianos responderam pela sexta maior corrente de imigração para trabalho temporário de até dois anos, segundo o MTE. Americanos lideraram o ingresso.

A demanda por trabalhadores em TI no Brasil também elevou as chances de colocação. “Aqui tem pouco profissional para o volume de trabalho. Em meu país, é o oposto”, descreve o engenheiro, que espera qualificar seu currículo para atuar em grandes empresas quando tiver de voltar para casa. Na adaptação à cultura e à vida local, Goméz diz que não teve muita dificuldade em se ajustar ao ritmo da Capital gaúcha, com seus 1,4 milhão de habitantes, em contraste com os 8 milhões de Bogotá. O desenvolvedor de sistemas valoriza o ambiente favorável à inovação. “Gosto de criar do zero, de ver o filho crescer, e tenho projetos novos a cada três meses. Penso em voltar um dia a Bogotá, mas por enquanto estou bem aqui. Gosto muito do que faço”, garantiu o estrangeiro.

O ingresso de formados para estágio remunerado atraiu 142 estrangeiros até dezembro ao País, enquanto foram 183 em 2010. Áreas de maior interesse se situam entre segmentos técnicos, engenharias e Tecnologia da Informação. Já o número de estudantes que viajam ao Brasil para trabalho remunerado, sem relação com intercâmbio, chegou a 304, ante 242 do ano anterior. O presidente o escritório da Aiesec em Porto Alegre, Cícero Hennemann Machado, associa a queda dos estágios a mudanças na legislação brasileira, que exige vínculo do programa com alguma universidade. “Estamos conversando com duas universidades gaúchas para celebrar um convênio. O que tem crescido é o fluxo para trabalho voluntário”, contrasta Machado. A associação registrou 786 jovens atraídos neste ano para este tipo de atividade, ante 353 de 2010.

Estrangeiros afinam domínio do idioma e da cultura

FREDY VIEIRA/JC

Doigawa está há sete meses na Capital e já fala o português
O japonês Yoshitake Doigawa, aos 24 anos, já domina o português. Empregado de uma companhia japonesa que atua em diversos segmentos de comércio exterior, o jovem está há sete meses em Porto Alegre fazendo imersão na língua e nas peculiaridades da cultura brasileira. Ele se prepara para assumir uma função em um dos escritórios da empresa e deve ficar até março na Capital gaúcha. “No Japão, fala-se muito do crescimento do Brasil. Muitos amigos meus queriam estar aqui”, atesta o jovem, que fez formação em teoria da arte.
Além do idioma, Yoshi, como é chamado na escola que frequenta no bairro Mont’Serrat, assimila a diversidade do País, travando contato com a geografia, a economia e os costumes de todas as regiões. Religião é um dos focos, ressalta o japonês. “Nunca vou estar pronto, mas entendo cada vez mais como agem os brasileiros”, anima-se Yoshi. O pouco tempo de convivência local também já revelou o que os consumidores brasileiros experimentam mais intensamente nos últimos anos: o acesso a produtos asiáticos oriundos da China e Coreia do Sul. “O Japão precisa se esforçar para recuperar terreno.”

Alunos como o japonês aumentaram o trabalho e o nicho de mercado para cursos de português para estrangeiros. “O português assumiu outra posição no mundo”, destaca Graziela Andrighetti, que montou com mais duas sócias a escola BemBrasil, com sede em Porto Alegre. O trio, que dava aulas do idioma em projetos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), criou um mix de aprendizado, que une língua, cultura, hábitos, economia e o jeito que os brasileiros fazem negócios. “É tudo customizado, de acordo com o foco da empresa e do profissional que vem para cá”, ressalta Graziela. Entre as nacionalidades que mais buscam o serviço estão, além da japonesa, a alemã, a espanhola, as latinas e a inglesa. Os ramos de atuação abrangem construção civil, arquitetura, tecnologia e postos de gestão de multinacionais.

Tratamento a ilegais desafia a nova fronteira

Não há estatísticas oficiais sobre a quantidade de imigrantes em situação irregular no País, mas os principais institutos e ONGs que trabalham com imigrantes no Brasil calculam esse número em 600 mil, o que levaria o total de estrangeiros morando hoje no Brasil para mais de dois milhões. O crescimento desse grupo também é grande. Segundo a maior instituição de apoio aos imigrantes irregulares no País - o Centro Pastoral do Migrante, em São Paulo - a instituição hospedou 477 pessoas em 2010 (267 da América do Sul), alta de 76%

A explosão de entrada de estrangeiros no País (imigração) contrasta com o encolhimento na ida de brasileiros para o exterior (emigração). O ministério estima que hoje dois milhões de brasileiros vivam no exterior, uma queda radical em comparação a 2005, quando eram quatro milhões. A razão para a balança migratória ter mudado de lado é econômica, explica o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão. O crescimento da economia brasileira, aliado às crises que afetam os três maiores polos de desenvolvimento mundial - EUA, Europa e Japão - transformaram o País num ímã de mão de obra legal e ilegal. “Com esse movimento migratório econômico, o Brasil voltou a ser um país de imigração e não mais de emigração. E à medida que o Brasil vai enriquecendo, a questão da imigração vai se tornando cada vez mais importante”, afirma Abrão.

Apesar disso, dizem representantes das organizações e universidades que estudam o assunto, o governo não tem uma política para lidar com o tema. “A anistia concedida aos imigrantes em 2009 foi importante, mas não resolve um problema que é basicamente de mercado de trabalho”, diz o professor Helion Póvoa Neto, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios da UFRJ. “Com o assunto disperso entre vários ministérios, acaba que os imigrantes só são visíveis quando a Polícia Federal, um órgão de governo preocupado com segurança, investiga algum caso criminoso de trabalho escravo ou tráfico de pessoas.”

Entre os imigrantes legais, os maiores grupos são os de origem portuguesa, boliviana, chinesa e paraguaia, nesta ordem. Entre os irregulares, tomando como base os registros de estrangeiros que aproveitaram a anistia concedida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009 - quem estivesse em situação irregular poderia pleitear um visto provisório e, em dois anos, regularizar sua situação -, os maiores grupos são os bolivianos (40% do total de cerca de 47 mil vistos provisórios emitidos), chineses (13%), peruanos (11%), paraguaios (10%) e coreanos (3%).

Há 20 anos dando assistência jurídica a imigrantes, a advogada da Pastoral do Migrante em São Paulo, Ruth Camacho, diz que os latinos são muito discriminados no Brasil e, acuados e sem informação, demoram a perceber que estão sendo explorados. “Nos últimos anos, têm vindo muitos imigrantes de zonas mais afastadas e rurais da Bolívia. É uma situação que lembra a dos nordestinos na década de 1970. O boliviano chega e tudo que tem é uma cama. Mas ele se sente bem, porque pensa: aqui tenho casa, comida e ainda ganho um dinheirinho.”

CONTRA A AFTOSA

Fronteira do RS terá vigilância reforçada. Fiscalização será maior em um trecho de 200 quilômetros com a Argentina - zero hora 04/01/2012

A reincidência da febre aftosa no Paraguai volta a deixar o Rio Grande do Sul em estado de alerta. Como medida de defesa, o serviço veterinário gaúcho vai retomar a partir de hoje a fiscalização do trânsito de animais, veículos e produtos que podem transportar o vírus.

A mobilização ocorrerá principalmente em um trecho de 200 quilômetros da fronteira com a Argentina, entre Garruchos e Barra do Guarita (confira quadro ao lado), trecho considerado mais crítico pela circulação irregular de gado e mercadorias. Na região, seis barreiras volantes farão o controle em estradas e propriedades. Outras quatro equipes fixas ficarão em pontos onde há transporte de balsa entre os dois países pelo Rio Uruguai. O trabalho, no entanto, não se resumirá à região.

– Faremos vigilância ativa em todo o Estado, principalmente em propriedades com alta movimentação de animais – diz Marcelo Göcks, do serviço de doenças vesiculares da Secretaria da Agricultura.

O novo foco, também no Departamento de San Pedro e a 30 quilômetros da propriedade que registrou a doença em setembro de 2011, aumentou a preocupação de produtores. O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto, pede que o governo federal cobre o Paraguai sobre a demora na confirmação dos focos.

Em entrevista por telefone a Zero Hora, o diretor nacional de sanidade Animal do serviço veterinário do Paraguai (Senacsa), Manuel Barboza, admitiu que a situação “é incômoda e desagradável”. Barboza confirmou que as autoridades estão verificando as origens do novo foco da doença.

O governo brasileiro anunciou que o Exército dará suporte à fiscalização na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, e os veículos com origem no país vizinho passarão por desinfecção. O embargo à importação de carne, por enquanto, se limitará ao Departamento de San Pedro.