sábado, 18 de outubro de 2014

BALA NA CARA NO TRAFICO INTERNACIONAL



ZH 18 de outubro de 2014 | N° 17956


EDUARDO TORRES

GOLPE NO CRIME. Federais prendem líder dos Bala na Cara

OPERAÇÃO DESMANTELA ROTA DA DROGA comandada pela facção gaúcha. Bando, que também trazia ilegalmente armas ao país, chegava a transportar 40 quilos de cocaína por semana para a Região Metropolitana desde Ciudad del Este



A movimentação da Polícia Federal (PF) em um bairro nobre da Capital, na manhã de ontem, tinha como alvo o homem apontado como um dos principais cabeças do tráfico na Região Metropolitana. Em um apartamento de luxo, adquirido há pouco tempo, Luís Fernando da Silva Soares Júnior, o Júnior Perneta, considerado o líder da facção Bala na Cara, foi preso, dando fim a oito meses de investigações contra um lucrativo esquema de tráfico internacional de drogas e armas desde o Paraguai.

A Operação Bom Jesus prendeu outras nove pessoas em Porto Alegre, Cachoeirinha, Cascavel (PR) e Foz do Iguaçu (PR). Entre elas, parte da cúpula da facção. Segundo o titular da Delegacia de Repressão a Drogas da PF, delegado Fabrício Argenta, todos eram diretamente subordinados a Júnior Perneta:

– É uma quadrilha muito capilarizada, por isso sempre é complicado uma investigação mais complexa contra eles. Mas sabíamos que tinha um núcleo hierárquico. Atacamos neste ponto.

Segundo a apuração da PF, o traficante controlava todas as operações da facção. Drogas ou armas encomendadas no Paraguai, ao menos desde o ano passado, tinham o aval dele. Em duas oportunidades, o chefão dos Bala chegou a ir a Ciudad del Este acertar as negociações.

No momento em que o material chegava a Porto Alegre, cabia a ele supervisionar e definir para onde seria distribuído. Conforme os investigadores, Júnior geralmente estava presente no momento de chegada das drogas, mas raramente encostava no entorpecente.

– Ele se fortaleceu ultimamente, comprando drogas e armas a preço de atacado e vendendo na Região Metropolitana como varejista – explica o delegado.

A estimativa é de que até 40 quilos de cocaína e crack eram trazidos por semana de Ciudad del Este à Região Metropolitana. Aqui, o produto era triplicado com aditivos e distribuído em áreas dominadas ou parceiras dos Bala na Cara. Junto, eram trazidas, de forma ilegal, pistolas fabricadas no Brasil e exportadas para o Paraguai.

Desde o começo das investigações, foram apreendidos 180 quilos de cocaína entre quatro carregamentos interceptados. Em 2013, outros três carregamentos totalizando outros 140 quilos, foram interceptados no Paraná. O último deles, em julho, resultou na prisão de Júnior, juntamente com Luís Fernando Duarte Souza, o Nando, atualmente preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Eles recebiam 20 quilos de cocaína escondidos em um carro no estacionamento de um hospital, no bairro Menino Deus.

No mês passado, o chefão foi liberado da cadeia pela Justiça por falta de provas.

– São provas que, agora, com o encerramento do inquérito, teremos bem firmadas. Acredito que ele responderá pelo crime na prisão – disse o delegado.

Na operação, também foram apreendidos quatro veículos, R$ 50 mil e uma pistola. Os envolvidos responderão por tráfico internacional de drogas e armas e associação para o tráfico. Em virtude das articulações da facção nas cadeias, a PF solicitou que eles sejam encaminhados à Pasc.



Ordem para derrubar os Manos


De acordo com o delegado Fabrício Argenta, o aumento das execuções ligadas ao tráfico de drogas na Região Metropolitana nos últimos meses não é à toa:

– A organização está em plena expansão e, por isso, em rota de colisão com outros grupos para dominar o tráfico. Eles não agem por negociação. Em geral, usam da violência e eliminam rivais.

Nessa disputa por territórios, pelo menos uma ordem de execução teria partido do Paraguai. No começo de abril, o traficante Jair de Oliveira, o Jair Cabeludo, 42 anos, suspeito de ser um dos principais braços da facção nas ruas, sofreu uma tentativa de homicídio em uma loja de autopeças, em Novo Hamburgo. O inquérito foi encerrado pela Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo sem autoria, mas com indício de que o crime havia sido cumprido pelos Bala na Cara.

A ordem teria partido de um fornecedor paraguaio, provavelmente como cobrança de dívida. O que a polícia ainda não descobriu é quem executou o crime.

Em abril, a Operação Panóptico, também da PF, revelou a rota de tráfico internacional dos Manos, coligados dos Balas, com o Paraguai. Na ocasião, 15 pessoas foram presas entre a Capital e o Vale do Sinos.

CÓDIGOS PARA IDENTIFICAR DROGAS

“Peixe” (cocaína) e “MD” (crack) eram códigos usados pelo chefão dos Bala na Cara para determinar as quantidades e quais drogas seriam enviadas para cada ponto dominado pela facção. O depósito ficvava em um sítio no bairro Vila Nova, na Zona Sul.


A ROTA DA DROGA
-A droga era encomendada diretamente pelo líder da facção a um fornecedor em Ciudad del Este, no Paraguai.
-De lá, carregamentos de até 40kg de cocaína por semana eram escondidos principalmente em tanques de combustíveis de carros pequenos e trazidos por “mulas” até a Região Metropolitana.
-A entrega acontecia em pontos movimentados da Capital. Dali, a droga partia para um sítio na Zona Sul, onde era redistribuída aos pontos de tráfico.
APREENSÕES
-Em junho, foram encontrados 70kg de cocaína e cinco pistolas em um sítio no bairro Vila Nova, no depósito do bando.
-Em julho, um dos carros carregados de cocaína foi guinchado a um posto de combustíveis da Avenida Farrapos. Foram apreendidos 30kg de cocaína.

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