Para não pular o muro
Para melhorar a posição entre eleitores hispânicos, republicanos têm agora nova chance de ajudar a votar uma reforma política da lei de imigração nos Estados Unidos
A nova urgência surgida entre os republicanos para melhorar a posição do partido entre os eleitores hispânicos não é o único motivo pelo qual uma reforma política da lei de imigração dos Estados Unidos pode ter uma chance melhor neste ano do que em 2007, quando o Congresso tentou pela última vez confrontar a questão e fracassou.
Graças a algumas medidas, os problemas por trás da imigração ilegal – pressões econômicas e demográficas que atraíram mexicanos para o norte há décadas em busca de empregos e uma vida melhor, e a dificuldade para proteger a fronteira dos Estados Unidos – diminuíram nos últimos seis anos.
A economia mexicana, embora ainda recheada de ineficiência e desigualdade, está mais forte, fornecendo mais oportunidades de empregos para os trabalhadores. E, no México, origem de aproximadamente seis em cada 10 imigrantes ilegais nos Estados Unidos, a taxa de natalidade caiu na última década, reduzindo a quantidade de emigrantes em potencial.
– Estamos num momento em que mudaram os motivos responsáveis pelo que, durante 40 anos, foi a imigração persistente e crescente – afirmou Doris Meissner, comissária do Serviço de Imigração e Naturalização no governo de Bill Clinton e agora membro do Instituto de Política de Imigração, um grupo de pesquisa.
Ao mesmo tempo, um dos contenciosos nas batalhas anteriores sobre a questão – a segurança das fronteiras – tornou-se menos um foco de conflito partidário. Mesmo entre republicanos de Estados fronteiriços, há otimismo de que os bilhões de dólares gastos nos últimos anos com cercas, reforço de agentes, aviões de vigilância não tripulados e outras medidas estão tendo efeito real.
– Sim, houve melhoria na segurança da fronteira, o que ajuda muito – afirmou o senador John McCain, republicano do Arizona, líder do grupo bipartidário buscando a legislação conjunta, quando questionado se os trâmites políticos para obter acordo desta vez seriam mais fáceis por causa da fiscalização.
Ainda se debate se as mudanças são permanentes ou se seriam revertidas no caso de outra recessão profunda no México ou na América Latina – ou mesmo recuperação forte no crescimento econômico nos EUA.
Mas, por enquanto, a população de imigrantes ilegais nos Estados Unidos mostra poucos sinais de crescimento. Caiu para 11,1 milhões em 2011, o ano mais recente com estatísticas disponíveis, de um pico de 12 milhões em 2007, informou o Centro Hispânico Pew em janeiro. Em nova estimativa, o número de pessoas que conseguiram atravessar a fronteira mexicana ilegalmente para os Estados Unidos caiu para 85 mil em 2011, de 600 mil cinco anos antes.
Com a escala do problema se estabilizando por enquanto, ou mesmo encolhendo, segundo alguns especialistas, há mais espaço para acordos políticos do que da última vez.
– O debate sobre imigração, como se viu nas últimas duas campanhas presidenciais, não acompanhou o ritmo dos fatos – afirmou Paul Taylor, diretor do Centro Hispânico Pew. – Eu realmente sinto que a natureza do debate está mudando e se atualizando.
E há outro ingrediente: o crescimento demográfico do México caiu para uma taxa anual de 1,1% na primeira década deste século, vindo de 3,2% nos anos 1960, segundo o Instituto de Políticas de Migração. O número de pessoas com menos de 15 anos está caindo no México, e o de 15 a 29 anos cairá nos próximos anos, uma mudança importante, já que a maioria dos imigrantes ilegais chega aos Estados Unidos com menos de 30 anos.
As crianças estão ficando mais tempo na escola, um indício da intenção de não migrar em busca de empregos de baixa qualificação, e o desenvolvimento de uma classe média reduziu ainda mais o número de mexicanos compelidos a buscar um meio de vida nos Estados Unidos.
As estatísticas na fronteira são também testemunhos flagrantes da diminuição do fluxo de pessoas buscando atravessar ilegalmente. Refletindo em parte o efeito dissuasivo da vigilância de fronteira mais rígida, assim como as mudanças econômicas e demográficas, o número de apreensões ao longo da fronteira caiu bruscamente. Alguns analistas afirmam que essa queda reflete menos o maior controle da fronteira e mais o reconhecimento, por imigrantes em potencial, de que as chances de encontrar emprego nos Estados Unidos diminuíram bastante nos últimos anos.
Em todo caso, a queda não altera o fato de que existem 11 milhões de pessoas não documentadas vivendo nos EUA, cuja situação precisa ser abordada em legislação detalhada. Embora as mudanças econômicas e demográficas tenham permanecido em segundo plano, analistas afirmam que elas poderiam oferecer mais garantias, particularmente aos conservadores, de que dar status legal para esses imigrantes não produziria uma nova onda deles.
O México continua sofrendo com a instabilidade social. Muitos republicanos continuam a ver o país com cautela, vendo na dificuldade do governo de controlar a violência e a desordem geral por cartéis do tráfico de drogas uma instabilidade perigosa que pode criar problemas transfronteiriços mais profundos.
RICHARD W. STEVENSON | WASHINGTON
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