
MUDANÇA DE FOCO. Polícia triplica apreensões de drogas no RS em 2011. Estratégia de investigar os carregamentos vindos do Exterior acarreta em 4,2 toneladas retidas - FRANCISCO AMORIM, ZERO HORA 27/07/2011
Ao investir no monitoramento de quadrilhas que despejam drogas no RS trazidas de países vizinhos, as polícias Civil e Militar triplicaram o volume das apreensões de entorpecentes no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2010. A estratégia de concentrar as investigações em bandos interestaduais evitou que 4,2 toneladas de maconha, cocaína e crack chegassem às ruas gaúchas.
As duas corporações gaúchas apostaram em campanas e escutas para descobrir a hora e o local certos da chegada dos carregamentos vindos de fora do país. Operações policiais que podem se estender por semanas em frente a bocas de fumo ou casa de suspeitos.
As ações levaram à apreensão de 3,9 toneladas apenas de maconha. E os números poderiam ser ainda maiores, pois na contabilidade oficial não está inserida 1,2 tonelada da droga – recolhida em uma operação da Brigada Militar com a Polícia Rodoviária Federal em junho, contabilizada no balanço da Polícia Federal.
Segundo o delegado Heliomar Franco, coordenador das delegacias especializadas do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc), as ações têm se concentrado nos elos entre estrangeiros e gaúchos.
– Quase sempre há a participação de alguém do Paraná ou Mato Grosso do Sul, que aproxima os dois lados. Quando há maior repressão na fronteira, o volume de drogas que circula no Estado diminui – explica o delegado.
Se grandes apreensões, acima de 500 quilos, podem ter inflacionado os números referentes à maconha, o mesmo não ocorre com a cocaína, geralmente, transportada em quantidades menores devido ao alto valor. Apreensões regulares, entre um e cinco quilos, no entanto, têm minado a ação dos traficantes. É possível que o volume de drogas que circulam no Estado também tenha crescido.
– Se as apreensões aumentaram 200% e o preço continua estável, não significa que temos aumento de 200% nos usuários, mas que o mercado continua abastecido – afirma o policial.
Os números das polícias gaúchas se somam aos da Polícia Federal no Estado, que apreendeu 3,2 toneladas de maconha e 74 quilos de cocaína e crack no primeiro semestre.
Crack em ritmo menor
Em relação a outras drogas, o volume de crack apreendido cresceu em ritmo mais tímido em 2011: de 131 quilos em 2010 para 148 quilos neste ano.
A explicação das autoridades policiais para o fenômeno é a de que a maior parte do crack consumido no Estado é produzido em solo gaúcho a partir da cocaína importada de países como a Colômbia. Ou seja, a droga surge a partir do que já está nas mãos dos bandidos gaúchos.
Outra característica do crack que reflete nos números é o fato de ser fabricado em pequenas quantidades, dificilmente ultrapassando 10 quilos. Elaborado por quadrilhas locais, ele é disseminado nas ruas pelas mãos de pequenos traficantes, que recebem o pagamento em pedras, dificultando a ação da polícia. As apreensões da droga são “de grão em grão”.
A polícia tem adotado uma estratégia dupla em relação ao crack. Além de conter o avanço da droga freando a entrada de cocaína, tenta reprimir o tráfico formiguinha em ações específicas nas bocas de fumo e em frente a escolas.
O volume apreendido nesse caso é tímido porque os criminosos portam propositalmente poucas pedras, em uma tentativa de se passarem por usuários.
Números do primeiro semestre - Apreensões de drogas pela PC e BM, em quilos
Substância - 2010 - 2011 - Aumento(%)
Maconha - 1.333,5 - 3.959,2 - 196,9%
Cocaína - 40,2 - 150,6 - 274,6%
Crack - 131,2 - 148,6 - 13,3%
Nenhum comentário:
Postar um comentário