sábado, 28 de dezembro de 2013

REPRESSÃO À COCAÍNA

ZERO HORA 28 de dezembro de 2013 | N° 17657

JOSÉ LUIS COSTA

Nova estratégia faz PF impulsionar apreensões
Total da droga recolhida, no Estado, em 2013, perde somente para as 2,1 toneladas de 1993, no Vale do Sinos


A Superintendência da Polícia Federal (PF) no Rio Grande do Sul encerra 2013 com um marca histórica. Atingiu o maior volume de apreensões de cocaína em duas décadas, 12 vezes acima do que foi tirado das ruas em 2000. Os números de 2013 só ficam atrás das 2,1 toneladas recolhidas no Vale do Sinos, em 1993, até hoje o recorde brasileiro de apreensão da droga.

Atonelada apreendida em 2013 representa quase o triplo dos números de 2012 e 2011, quando foram recolhidos 353 e 395 quilos, respectivamente – em 2010, o volume se aproximou devido aos mais de 860 quilos que foram recolhidos, 500 deles encontrados em um armazém de Rio Grande, antes de serem embarcados em um navio para a Europa.

Para o superintendente da PF gaúcha, Sandro Caron, os números superlativos se explicam em iniciativas operacionais bem definidas: ampliação das ofensivas nas fronteiras e uma parceria melhor azeitada com a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, o maior corredor de drogas da América do Sul.

A ampliação de recursos humanos e materiais para a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) – os efetivos não são divulgados – permitiu maior agilidade e eficiência da DRE, responsável por mais de 80% da cocaína apreendida pela PF no Estado.

– A DRE faz um trabalho maravilhoso, com atuação em todo o Estado, em ritmo forte – enfatiza o delegado.

Caron afirma que a PF organizou uma espécie de cordão de isolamento, abortando carregamentos nas regiões de fronteira no Estado, e, o que passava desapercebido, era apreendido depois, por meio da DRE. Em alguns casos, a PF gaúcha repassou informações para colegas de outros Estados, que resultaram em apreensão de 400 quilos, em cidades do Sudeste.

A troca de informações e a integração com autoridades paraguaias, destaca Caron, foram fundamentais para pelo menos duas ações, em 3 e 20 de dezembro: a Operação Antares, que resultou em cinco prisões simultâneas de traficantes, em Bento Gonçalves, na Serra, e em Ciudad del Este, no Paraguai. E a segunda ofensiva, também em Bento Gonçalves e em Porto Alegre (nessa última foram apreendidos 105 quilos da droga).


Droga em livros e caixas d’água

A criatividade de traficantes para tentar driblar a fiscalização da Polícia Federal (PF) surpreendeu os agentes em 2013. Em junho, 3,8 quilos de cocaína pura foram encontrados impregnados em páginas de três livros volumosos em poder de um paraguaio que embarcaria para Lisboa, com destino à Costa do Marfim, na África.

Em setembro, a PF apreendeu, também no Salgado Filho, 14,7 quilos de cocaína dentro da tubulação da vela de uma prancha de windsurfe. A droga seria levada para Barcelona por um morador de Novo Hamburgo.

Mas o que mais chamou a atenção dos federais este ano foram os 175 quilos de cocaína – a maior apreensão de 2013 – que viajaram em setembro de Ciudad del Este, no Paraguai, até a região metropolitana de Porto Alegre. A droga estava em um motorhome. Duas famílias, incluindo quatro homens, duas mulheres e uma criança, retornavam de uma “viagem de turismo” no Paraguai.

Na BR-386, em Tabaí, foram revistados e, questionados sobre produtos ilegais, apresentaram brinquedos e eletrônicos sem nota fiscal. A atitude levantou suspeitas, e os agentes passaram a vistoriar o motor home até que acharam a droga dentro do reservatório da caixa d’água potável.


Paraguai, ponte brasileira

CARLOS WAGNER

Até o início dos anos 2000, Capitán Bado era apenas mais um lugarejo de ruas de chão batido no território paraguaio, separado por uma avenida de Coronel Sapucaia, uma cidade agrícola no oeste de Mato Grosso do Sul, colonizada por gaúchos. Fugindo da polícia, o traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, instalava-se na região sob a proteção de João Morel, um poderoso distribuidor de drogas do Paraguai. Nos anos seguintes, Beira-Mar mandou matar Morel e tomou conta do comércio. O tráfico, que até então era um negócio de família, tornou-se uma operação empresarial. Beira-Mar consolidou uma aliança com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), um movimento que se desviou dos seus ideais e passou a operar no comércio de cocaína. Ele levava armas, remédios e radiocomunicadores para as tropas e trazia pó como pagamento. Logo, grandes organizações criminosas do Brasil, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho, estabeleceram-se no Paraguai.

Hoje, aos 46 anos, Beira-Mar cumpre pena no Presídio Federal de Catanduvas, interior do Paraná. Mas a máquina que fornece droga, instalada no Paraguai, segue funcionando. Não só com o pó colombiano, mas também boliviano e peruano. Na última década, o território paraguaio se consolidou como entreposto da cocaína por ter uma vasta fronteira seca com o Brasil, um dos grandes países consumidores da droga. As apreensões feitas pela PF mostram que o Paraguai é muito mais que uma ponte de produtos pirateados da China.



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