GOLPE NO TRÁFICO. PF ataca consórcio de traficantes. Grupo identificado é suspeito de injetar 500 quilos de cocaína pura no país mensalmente - GUILHERME A.Z. PULITA | CAXIAS DO SUL, zero hora, 07/12/2011
Em uma operação contra o narcotráfico, a Delegacia da Polícia Federal de Caxias do Sul desarticulou um dos tentáculos de um consórcio de traficantes que injetava mensalmente 500 quilos de cocaína pura no país. Na manhã de ontem, 200 agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em quatro Estados e no Paraguai. Em pouco mais de seis horas, 34 pessoas foram presas, sendo 24 delas no Rio Grande do Sul.
A ação desarticulou uma das rotas de um dos três maiores traficantes do país. Trata-se de Gilmar Ribeiro, o Índio, que há anos vive foragido no Paraguai e, segundo a PF, era quem adquiria a droga nos cartéis bolivianos e colombianos ou de outros traficantes radicados no Paraguai.
Ontem, a PF não fez apreensões de drogas. Esse resultado já era previsto. De acordo com o delegado Noerci da Silva Melo, titular da Delegacia da PF de Caxias, agentes sabiam que não apreenderiam entorpecentes, apenas os operadores do tráfico:
– A operação foi para retirar de circulação essas pessoas.
Conforme o delegado, agentes, em parceria com a Secretaria Nacional Antidrogas, descobriram que traficantes estão montando consórcios para vender drogas no país e para Europa. Noerci revela que os traficantes estão adquirindo terras próximo às cidades de Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã (MS), e montando um entreposto para a droga.
Foi por meio de dois traficantes de Bento Gonçalves que a Delegacia da Polícia Federal conseguiu descobrir uma das rotas que abastecia o sul do país com cocaína pura. De acordo com Noerci, a dupla teria contato direto com Índio no Paraguai.
Durante as investigações foi possível definir três grupos de distribuidores no Estado que se relacionavam e adquiriam drogas de Índio e de seus consorciados no Paraguai. Durante os monitoramentos das atividades dos criminosos, agentes descobriram que um dos traficantes de Bento ia com frequência ao Paraguai para adquirir cocaína diretamente com o Índio. Esse homem é uma das nove pessoas presas pela PF em Bento Gonçalves.
Em Caxias do Sul, um morador de Bento que cumpre pena em regime semiaberto recebeu voz de prisão ao deixar a cadeia. Uma pessoa foi presa em Vacaria. Também houve oito prisões em Passo Fundo, duas em Porto Alegre, duas em Protásio Alves e uma em Sapucaia do Sul. Os nomes dos presos não foram divulgados pela PF.
Como funcionava
- Grandes traficantes e atacadistas de cocaína se estabeleceram no Paraguai. A maioria depois de ter prisão decretada pela Justiça brasileira ou por ter sido condenada em processos. No país vizinho, uniram-se para traficar.
- Os criminosos montaram o que a Polícia Federal classifica como consórcio. O esquema funcionaria da seguinte forma: traficantes compram pasta base de inúmeros cartéis da Bolívia e na Colômbia, países produtores de coca, matéria-prima para a droga.
- A pasta base chega dos cartéis em aviões. Pequenas aeronaves usam pistas nas fazendas dos traficantes. Nas fazendas também existem laboratórios onde a pasta base é transformada em cloridrato de cocaína, a droga na sua forma mais pura após o refino.
- Os traficantes juntam seus estoques de drogas e dividem custos com transporte da matéria-prima dos cartéis e com as entregas das remessas para o país, refino e corrupção de agentes públicos.
- Agindo em consórcio, os criminosos vendem o cloridrato de cocaína para quem tiver interesse.
- Com a pasta refinada, os traficantes enviavam em carros de passeio a droga para traficantes no Brasil, que faziam um novo refino para transformar o cloridrato em cocaína ou crack.
- Segundo a PF, a droga do consórcio abastecia Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Cerca de 200 quilos mensais eram destinados apenas para o RS e SC.
Peças para caça-níqueis
Uma grande quantidade de materiais utilizados na fabricação de máquinas caça-níqueis foi apreendida em uma casa em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. A polícia suspeita que o local funcionava como uma fábrica e centro de distribuição dos equipamentos para toda a região. Além das caixas com componentes, uma linha de montagem foi encontrada com material para fabricação das máquinas.
O local foi descoberto por agentes da Guarda Municipal. Eles estavam em alerta para a possibilidade da chegada a Novo Hamburgo de uma carga roubada no município de Montenegro, no Vale do Caí.
A pedido da 4ª Delegacia da Polícia Civil, monitoravam locais que recebessem algum tipo de carga. Ao ver um carro de transporte parado na calçada da casa, no bairro Rondônia, chamaram o proprietário. O morador da casa foi detido para averiguação e liberado em seguida – o nome não é divulgado porque, como não havia máquina pronta, não foi configurado o crime.
A Polícia Civil investigará, agora, se houve compra e entrada ilegal de equipamentos eletrônicos vindos de fora do Brasil.
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