Governo avalia denúncias feitas sobre fronteiras brasileiras. Na última reportagem da série, repórteres mostram a facilidade para contrabandear gasolina entre Brasil e o Peru. JORNAL NACIONAL, Edição do dia 06/06/2011
Na última reportagem da série sobre a situação das fronteiras brasileiras, os repórteres do Jornal Nacional mostram como é fácil contrabandear gasolina entre Brasil e o Peru. E o que diz o governo sobre as denúncias apresentadas no Jornal Nacional.
Um rio mais agitado que muita avenida de cidade grande. O combustível que movimenta Tabatinga, no Amazonas, é gasolina peruana, contrabandeada.
Basta atravessar o Solimões: tanques a céu aberto, em postos improvisados. E 90% da clientela são brasileiros, atraídos pelo preço baixo.
Uma vendedora diz que o litro está custando R$ 2. Então compensa pagar porque vai pagar R$ 3,20 no Brasil. A comerciante peruana também vende no atacado e dá desconto: “100 litros vezes 1.6, te sai a R$ 160”.
Na nossa margem, uma bela lancha da Receita Federal está quebrada faz um ano. “Tem que passar pelos processos normais de licitação para contratação da manutenção e a nossa expectativa é que ela volte à operação o mais rápido possível”, declarou o subsecretário de Aduanas da Receita Federal, Ernani Checucci.
De Tabatinga, no Amazonas, a equipe desceu 1,8 mil quilômetros até Cáceres, no Mato Grosso. É uma das principais portas de entrada hoje de toda a cocaína que é produzida na Bolívia e abastece o tráfico no Rio de Janeiro, em São Paulo e em outras capitais brasileiras. Apesar de toda a gravidade dessa situação, a Receita Federal não tem gente suficiente para fazer fiscalização 24 horas por dia na região.
Nos postos de controle de Norte a Sul do Brasil, a Receita Federal tem apenas 600 funcionários. Para dar conta do recado, faltariam 430, segundo o Sindicato dos Analistas Tributários.
“A Receita Federal está, sim, atenta a essa questão de servidores. Os recursos disponíveis são limitados. Este ano, estamos com 618 milhões de mercadorias apreendidas. Esse tem sido o recorde do trimestre em relação ao ano passado”, afirmou o subsecretário.
Nos lugares onde falta fiscalização rigorosa, o crime organizado aproveita. “Quando se faz uma apreensão de 300, 400 quilos de cocaína, você pode ter certeza que 20 vezes isso já passou”, disse o juiz Alex Figueiredo.
Não é pela terra, nem pela água. Hoje, a maior parte da cocaína produzida na Bolívia entra no Mato Grosso pelo ar. As quadrilhas usam, cada vez mais, pequenos aviões para cruzar a fronteira e a droga, literalmente, cai do céu.
“Os aviões saem da Bolívia, dão rasantes em faixas próximas a da fronteira e fazem esse arremesso do entorpecente. Não há tempo hábil para fazer essa interceptação, em várias das vezes”, destacou delegado da Polícia Federal Dennis Máximino du Ó.
As duas bases da Aeronáutica mais perto da região estão fora do estado: uma fica em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e a outra em Porto Velho, Rondônia. A Justiça defende a presença permanente da Força Aérea em Cáceres.
“Para interceptar a entrada de aviões e ter mais, vamos dizer assim, agilidade”, disse o juiz Carlos Roberto Barros dos Santos.
Espionagem à distância para surpreender a ação do tráfico e do contrabando. Um galpão perto de Foz do Iguaçu, no Paraná, guarda, desde março, o Vant: avião de vigilância operado por controle remoto. Mas o que está impedindo o novo equipamento de levantar voo para valer? É falta de dinheiro?
“Infelizmente, eu não falo de recursos financeiros. Eu falo de recursos e situações legais. O Vant deverá estar sobrevoando as fronteiras brasileiras entre agosto, setembro deste ano”, declarou o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
O orçamento do Ministério da Justiça perdeu R$ 1,5 bilhão este ano. Policiais federais que trabalham nas fronteiras reclamam que estão sentindo o corte na pele. “Nós estamos tendo, infelizmente, restrições de toda forma, de verba, combustível e por aí vai. A União tem que dar uma atenção em breve a essa região de fronteira porque a criminalidade tem invadido bastante”, afirmou o delegado federal Chang Fan.
“Eu acredito que as nossas fronteiras são vulneráveis, infelizmente”, admitiu o ministro.
O ministro da Justiça falou em Brasília sobre as denúncias que estamos mostramos no Jornal Nacional desde a semana passada na série especial sobre as nossas fronteiras terrestres.
Repórter: Como o senhor vê essa questão da falta de recursos para o monitoramento das fronteiras?
“Há uma orientação muito clara da presidente Dilma Rousseff para que essa situação seja tratada como prioridade. É por essa razão inclusive que a partir do plano que estamos estruturando e que será agora divulgado foram alocados recursos necessários para fazermos essa intervenção”, garantiu ele.
Repórter: O senhor vai botar mais policiais federais nas fronteiras?
“Nós vamos aumentar os recursos materiais e humanos na perspectiva de execução desse plano”, afirmou.
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