G1 09/12/2013 15h10
Indígenas isolados avisam militares sobre guerrilheiros e crimes na selva. Alerta sobre o Sendero Luminoso provocou mobilização de tropas em 2012. Exército estimula entrada de indígenas nas tropas que protegem fronteiras.
Tahiane StocheroDo G1, em Amazonas e Roraima
Professor de comunidade indígena em Querari, na fronteira com a Colômbia, afirma que militares impedem o avanço de guerrilha em território brasileiro, mas diz que falta progresso ao povo (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Em dezembro de 2012, informes enviados por tribos indígenas na região de Santa Rosa do Purus, na divisa do Acre com o Peru, alarmaram a cúpula do Exército brasileiro em Manaus. As mensagens, segundo o general Guilherme Theópilo, responsável pela logística militar na Amazônia, diziam que caminhonetes com suspeitos de integrar o Sendero Luminoso haviam entrado no Brasil.
"Havia informações da presença de pessoas uniformizadas e fardadas entrando e circulando na região, com suspeita de serem do Sendero Luminoso. Montamos uma grande operação, com deslocamento de tropas para lá, mas nada foi confirmado oficialmente", disse o general Eduardo Villas Boas, comandante militar na Amazônia.
Considerada uma das organizações terroristas de maior atuação na América Latina até 1990, quando seus principais líderes foram presos ou mortos, a guerrilha do Sendero Luminoso ressurgiu no Peru em 2012, envolvida com a produção de cocaína. Em agosto, o Exército do Peru matou dois chefes militares do grupo armado.
Nunca desperdiçamos a informação de um indígena, eles confiam na gente, são nossos olhos onde não estamos. Sempre que nos derem uma informação, iremos lá conferir" - Sergio Luiz Goulart Duarte, general comandante de pelotões especiais de fronteira no Amazonas
Cabo da etnia yanomami serve como tradutor para
tribo e guia na selva (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Eu gosto do quartel e estou morando aqui onde é minha casa. Como yanomami, é bom saber atirar. Nós somos amigos, temos que defender nossa terra. Yanomami não deixa minerador e nem madeireiro em nossa terra" - Xaporita Yanomami, cabo indígena do Exército brasileiro
A grande maioria dos nossos soldados tem origem indígena, e isso é diretriz do comando da Amazônia: ter parte do povo local trabalhando conosco. Marco Machado, comandante do 8º Batalhão de Infantaria da Selva, na região de Tabatinga
Em outro episódio, ocorrido há três anos, uma aldeia indígena na Cabeça do Cachorro, área próxima a São Gabriel da Cachoeira, na tríplice fronteira de Amazonas com a Colômbia e a Venezuela, enviou um alerta a militares com a suspeita de que 500 integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs) estavam no Brasil. Segundo o general Sergio Luiz Goulart Duarte, comandante de seis pelotões especiais de fronteira (PEF) no estado, foram enviados às pressas para a região carros blindados, aeronaves de combate e dezenas de soldados.
"Fizemos uma verdadeira operação de guerra para levar o efetivo para lá, mas nada foi encontrado. Eram apenas suspeitas. Nunca desperdiçamos a informação de um indígena, eles confiam na gente, são nossos olhos onde não estamos. Sempre que nos derem uma informação, iremos lá conferir. Eles precisam saber que sempre estaremos presentes quando precisarem, que podem contar conosco", disse Duarte.
Aldeias informantes
Aldeias da região amazônica possuem rádios e enviam alertas e informes para a Fundação Nacional do Índio (Funai) e para os militares. Agentes da Funai fazem contatos direitos com os oficiais, repassando dados relevantes. Alguns dos 24 pelotões de fronteira estão em área indígena, como é o caso de Surucucu, localizado em terras da etnia yanomami na divisa de Roraima com a Venezuela, onde há, inclusive, indígenas incorporados como soldados.
Em março, a Hutukara Associação Yanomami na Amazônia, que reúne mais de 20 mil índios, anunciou a expansão do sistema de radiofonia nas aldeias para acelerar a comunicação em terras homologadas. "Recebemos muitas denúncias de garimpeiros que circulam ilegalmente em nossas terras", afirmou na ocasião o diretor da associação, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, para quem o rádio possibilita o envio de dados aos órgãos públicos e também o pedido de ajuda em casos de problemas de saúde.
"Eu gosto do quartel e estou morando aqui onde é minha casa. Como yanomami, é bom saber atirar. Nós somos amigos, temos que defender nossa terra. Yanomami não deixa minerador e nem madeireiro em nossa terra", diz o cabo Xaporita Yanomami, que incorporou no Exército em 2009 e serve como tradutor e guia na selva em Surucucu.
A tribo ainda usa poucas roupas – algumas mulheres e crianças ainda andam peladas ou com pequenos adereços – e não permitem que os brancos tirem fotos, por acreditar que os roubará a alma.
Toda vez que chega um avião da FAB ao local, eles se reúnem ao redor dos visitantes, tentando trocar flechas e cocares por sabonetes e arroz. A pista de Surucucu é uma das mais difíceis, dentre os 24 pelotões de fronteira, para os militares pousarem: fica em uma subida e possui um declive acentuado.
"A terra é dos índios yanomâmis. Militares só ajudam a gente a defender", afirma Xaporita, que diz que aprendeu a atirar e a fazer guerra durante o treinamento militar.
Em março e setembro, as Forças armadas fizeram operações, com apoio da Funai e da Polícia Federal, para prender mineradores e madeireiros que atuavam irregulares e também para destruir pistas de pouso ilegais usadas por garimpeiros na calha do rio Unaricoera, no município de Amajari. Uma delas era usada desde 2003 e só foi descoberta com apoio de indígenas.
"A grande maioria dos nossos soldados tem origem indígena, e isso é diretriz do comando da Amazônia: ter parte do povo local trabalhando conosco. Eles recebem conceitos, são treinados e ficam até sete anos conosco, em condições de voltarem para as comunidades depois e trabalharem como multiplicadores de valores", diz o coronel Marco Machado, comandante do 8º Batalhão de Infantaria da Selva, responsável pela região de Tabatinga.
Pedido de 'progresso'
Na comunidade indígena de Querari, que tem cerca de 400 moradores e fica localizada a 15 minutos de voo de São Gabriel da Cachoeira, na divisa com a Colômbia, o professor Maurici Thales de Luna, de 42 anos, diz que o povo da etnia Kubeu aceita bem a presença militar na área, mas pede maior "progresso".
Hospital em Yauretê deveria atender indígenas das
aldeias amazônicas (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Temos macas, cadeiras para dentista, material cirúrgico, mas nada podemos fazer aqui. Nunca tivemos médicos nem enfermeiros. Tudo tem que ser levado para os militares ou organizações missionárias que apoiam a região - Rosetti Borges Brandão, administradora do hospital "fantasma"
Administradora diz que hospital de área indígena
nunca teve médicos (Foto: Tahiane Stochero/G1)
"Temos luz apenas algumas horas por dia, pegamos do gerador do quartel. A internet também usamos dos militares, e no fim de semana não dá, porque é proibido entrar lá. A escola está abandonada, porque falta apoio para recuperar. Precisamos de muita coisa aqui", afirma.
"Não queremos que os militares vão embora, não. Eles defendem nossas fronteiras e não temos mais notícias de guerrilheiros na região. Mas falta progresso para nós", completa o professor.
Já em Yauretê, tríplice fronteira do Brasil com Colômbia e Venezuela, a reclamação da população indígena de cerca de 7 mil pessoas é um hospital "fantasma". O prédio foi construído em 2002 e equipado, mas nunca recebeu médico, segundo Rosetti Borges Brandão, que administra a unidade.
"Temos macas, cadeiras para dentista, material cirúrgico, mas nada podemos fazer aqui. Nunca tivemos médicos nem enfermeiros. Tudo tem que ser levado para os militares ou organizações missionárias que apoiam a região", diz ela.
Os moradores pegam dias de viagem pelos rios até São Gabriel da Cachoeira, para serem atendidos no único hospital público da região, que é administrado pelo Exército desde 2013, segundo o coronel Roberto Albuquerque.
"Tivemos que assumir a unidade devido ao clamor popular. 75% dos atendimentos que fazemos aqui de emergência, como partos e cirurgias, é da população indígena. Tem grávida que vem de Yauretê de barco e chega aqui depois de três para morrer na nossa porta, enquanto já poderiam ter recebido um atendimento lá na região", afirma.
Problemas de relação
Mas nem sempre a convivência entre índios e soldados é pacífica. Neste ano, representantes da aldeia yanomami em Santa Isabel do Rio Negro, próximo a São Gabriel da Cachoeira, na tríplice fronteira com Colômbia e Venezuela, chegaram a ameaçar a tropa do pelotão de Maturacá, responsável pela área, caso não recebessem energia elétrica.
A base militar conta com uma pequena usina, que não está operando devido ao alto custo de manutenção, segundo o general Guilherme Theophilo, responsável pela logística das unidades de fronteira na Amazônia.
"Os índios derrubaram postes de iluminação que colocamos ao longo da região reivindicando para eles também. Ainda bem que nosso capitão que conversou com eles era alto", brinca o general, mostrando um vídeo em que os indígenas dizem que, se não tiverem luz, ninguém mais terá. "Quem tem que se preocupar com isso é o Estado, não sou eu. Índio também quer progresso", aponta o general.
O governo do Amazonas informou que "as regiões de fronteiras são controladas pelo governo federal, sendo que, no caso de áreas fronteiriças com presença de populações indígenas, o controle também é feito pelo governo federal, via Funai". Segundo o governo do Amazonas, apesar disso, o estado, por meio da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), "realiza diversas ações de saúde e cidadania que beneficiam as comunidades indígenas do Alto Rio Negro". A Secretaria de Saúde e também a empresa Eletrobras Amazonas Energia não se pronunciaram até a publicação desta reportagem.
Indígenas isolados avisam militares sobre guerrilheiros e crimes na selva. Alerta sobre o Sendero Luminoso provocou mobilização de tropas em 2012. Exército estimula entrada de indígenas nas tropas que protegem fronteiras.
Tahiane StocheroDo G1, em Amazonas e Roraima
Professor de comunidade indígena em Querari, na fronteira com a Colômbia, afirma que militares impedem o avanço de guerrilha em território brasileiro, mas diz que falta progresso ao povo (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Em dezembro de 2012, informes enviados por tribos indígenas na região de Santa Rosa do Purus, na divisa do Acre com o Peru, alarmaram a cúpula do Exército brasileiro em Manaus. As mensagens, segundo o general Guilherme Theópilo, responsável pela logística militar na Amazônia, diziam que caminhonetes com suspeitos de integrar o Sendero Luminoso haviam entrado no Brasil.
"Havia informações da presença de pessoas uniformizadas e fardadas entrando e circulando na região, com suspeita de serem do Sendero Luminoso. Montamos uma grande operação, com deslocamento de tropas para lá, mas nada foi confirmado oficialmente", disse o general Eduardo Villas Boas, comandante militar na Amazônia.
Considerada uma das organizações terroristas de maior atuação na América Latina até 1990, quando seus principais líderes foram presos ou mortos, a guerrilha do Sendero Luminoso ressurgiu no Peru em 2012, envolvida com a produção de cocaína. Em agosto, o Exército do Peru matou dois chefes militares do grupo armado.
Indígenas em pelotão de fronteira do Exército, na
fronteira com Venezuela (Foto: Tahiane Stochero/G1)
fronteira com Venezuela (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Nunca desperdiçamos a informação de um indígena, eles confiam na gente, são nossos olhos onde não estamos. Sempre que nos derem uma informação, iremos lá conferir" - Sergio Luiz Goulart Duarte, general comandante de pelotões especiais de fronteira no Amazonas
Cabo da etnia yanomami serve como tradutor para
tribo e guia na selva (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Eu gosto do quartel e estou morando aqui onde é minha casa. Como yanomami, é bom saber atirar. Nós somos amigos, temos que defender nossa terra. Yanomami não deixa minerador e nem madeireiro em nossa terra" - Xaporita Yanomami, cabo indígena do Exército brasileiro
Soldado indígena já atuou em três pelotões de
fronteira do Exército (Foto: Tahiane Stochero/G1)
fronteira do Exército (Foto: Tahiane Stochero/G1)
A grande maioria dos nossos soldados tem origem indígena, e isso é diretriz do comando da Amazônia: ter parte do povo local trabalhando conosco. Marco Machado, comandante do 8º Batalhão de Infantaria da Selva, na região de Tabatinga
Em outro episódio, ocorrido há três anos, uma aldeia indígena na Cabeça do Cachorro, área próxima a São Gabriel da Cachoeira, na tríplice fronteira de Amazonas com a Colômbia e a Venezuela, enviou um alerta a militares com a suspeita de que 500 integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs) estavam no Brasil. Segundo o general Sergio Luiz Goulart Duarte, comandante de seis pelotões especiais de fronteira (PEF) no estado, foram enviados às pressas para a região carros blindados, aeronaves de combate e dezenas de soldados.
"Fizemos uma verdadeira operação de guerra para levar o efetivo para lá, mas nada foi encontrado. Eram apenas suspeitas. Nunca desperdiçamos a informação de um indígena, eles confiam na gente, são nossos olhos onde não estamos. Sempre que nos derem uma informação, iremos lá conferir. Eles precisam saber que sempre estaremos presentes quando precisarem, que podem contar conosco", disse Duarte.
Aldeias informantes
Aldeias da região amazônica possuem rádios e enviam alertas e informes para a Fundação Nacional do Índio (Funai) e para os militares. Agentes da Funai fazem contatos direitos com os oficiais, repassando dados relevantes. Alguns dos 24 pelotões de fronteira estão em área indígena, como é o caso de Surucucu, localizado em terras da etnia yanomami na divisa de Roraima com a Venezuela, onde há, inclusive, indígenas incorporados como soldados.
Em março, a Hutukara Associação Yanomami na Amazônia, que reúne mais de 20 mil índios, anunciou a expansão do sistema de radiofonia nas aldeias para acelerar a comunicação em terras homologadas. "Recebemos muitas denúncias de garimpeiros que circulam ilegalmente em nossas terras", afirmou na ocasião o diretor da associação, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, para quem o rádio possibilita o envio de dados aos órgãos públicos e também o pedido de ajuda em casos de problemas de saúde.
"Eu gosto do quartel e estou morando aqui onde é minha casa. Como yanomami, é bom saber atirar. Nós somos amigos, temos que defender nossa terra. Yanomami não deixa minerador e nem madeireiro em nossa terra", diz o cabo Xaporita Yanomami, que incorporou no Exército em 2009 e serve como tradutor e guia na selva em Surucucu.
A tribo ainda usa poucas roupas – algumas mulheres e crianças ainda andam peladas ou com pequenos adereços – e não permitem que os brancos tirem fotos, por acreditar que os roubará a alma.
Toda vez que chega um avião da FAB ao local, eles se reúnem ao redor dos visitantes, tentando trocar flechas e cocares por sabonetes e arroz. A pista de Surucucu é uma das mais difíceis, dentre os 24 pelotões de fronteira, para os militares pousarem: fica em uma subida e possui um declive acentuado.
"A terra é dos índios yanomâmis. Militares só ajudam a gente a defender", afirma Xaporita, que diz que aprendeu a atirar e a fazer guerra durante o treinamento militar.
Em março e setembro, as Forças armadas fizeram operações, com apoio da Funai e da Polícia Federal, para prender mineradores e madeireiros que atuavam irregulares e também para destruir pistas de pouso ilegais usadas por garimpeiros na calha do rio Unaricoera, no município de Amajari. Uma delas era usada desde 2003 e só foi descoberta com apoio de indígenas.
"A grande maioria dos nossos soldados tem origem indígena, e isso é diretriz do comando da Amazônia: ter parte do povo local trabalhando conosco. Eles recebem conceitos, são treinados e ficam até sete anos conosco, em condições de voltarem para as comunidades depois e trabalharem como multiplicadores de valores", diz o coronel Marco Machado, comandante do 8º Batalhão de Infantaria da Selva, responsável pela região de Tabatinga.
Pedido de 'progresso'
Na comunidade indígena de Querari, que tem cerca de 400 moradores e fica localizada a 15 minutos de voo de São Gabriel da Cachoeira, na divisa com a Colômbia, o professor Maurici Thales de Luna, de 42 anos, diz que o povo da etnia Kubeu aceita bem a presença militar na área, mas pede maior "progresso".
Hospital em Yauretê deveria atender indígenas das
aldeias amazônicas (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Temos macas, cadeiras para dentista, material cirúrgico, mas nada podemos fazer aqui. Nunca tivemos médicos nem enfermeiros. Tudo tem que ser levado para os militares ou organizações missionárias que apoiam a região - Rosetti Borges Brandão, administradora do hospital "fantasma"
Administradora diz que hospital de área indígena
nunca teve médicos (Foto: Tahiane Stochero/G1)
"Temos luz apenas algumas horas por dia, pegamos do gerador do quartel. A internet também usamos dos militares, e no fim de semana não dá, porque é proibido entrar lá. A escola está abandonada, porque falta apoio para recuperar. Precisamos de muita coisa aqui", afirma.
"Não queremos que os militares vão embora, não. Eles defendem nossas fronteiras e não temos mais notícias de guerrilheiros na região. Mas falta progresso para nós", completa o professor.
Já em Yauretê, tríplice fronteira do Brasil com Colômbia e Venezuela, a reclamação da população indígena de cerca de 7 mil pessoas é um hospital "fantasma". O prédio foi construído em 2002 e equipado, mas nunca recebeu médico, segundo Rosetti Borges Brandão, que administra a unidade.
"Temos macas, cadeiras para dentista, material cirúrgico, mas nada podemos fazer aqui. Nunca tivemos médicos nem enfermeiros. Tudo tem que ser levado para os militares ou organizações missionárias que apoiam a região", diz ela.
Os moradores pegam dias de viagem pelos rios até São Gabriel da Cachoeira, para serem atendidos no único hospital público da região, que é administrado pelo Exército desde 2013, segundo o coronel Roberto Albuquerque.
"Tivemos que assumir a unidade devido ao clamor popular. 75% dos atendimentos que fazemos aqui de emergência, como partos e cirurgias, é da população indígena. Tem grávida que vem de Yauretê de barco e chega aqui depois de três para morrer na nossa porta, enquanto já poderiam ter recebido um atendimento lá na região", afirma.
Problemas de relação
Mas nem sempre a convivência entre índios e soldados é pacífica. Neste ano, representantes da aldeia yanomami em Santa Isabel do Rio Negro, próximo a São Gabriel da Cachoeira, na tríplice fronteira com Colômbia e Venezuela, chegaram a ameaçar a tropa do pelotão de Maturacá, responsável pela área, caso não recebessem energia elétrica.
A base militar conta com uma pequena usina, que não está operando devido ao alto custo de manutenção, segundo o general Guilherme Theophilo, responsável pela logística das unidades de fronteira na Amazônia.
"Os índios derrubaram postes de iluminação que colocamos ao longo da região reivindicando para eles também. Ainda bem que nosso capitão que conversou com eles era alto", brinca o general, mostrando um vídeo em que os indígenas dizem que, se não tiverem luz, ninguém mais terá. "Quem tem que se preocupar com isso é o Estado, não sou eu. Índio também quer progresso", aponta o general.
O governo do Amazonas informou que "as regiões de fronteiras são controladas pelo governo federal, sendo que, no caso de áreas fronteiriças com presença de populações indígenas, o controle também é feito pelo governo federal, via Funai". Segundo o governo do Amazonas, apesar disso, o estado, por meio da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), "realiza diversas ações de saúde e cidadania que beneficiam as comunidades indígenas do Alto Rio Negro". A Secretaria de Saúde e também a empresa Eletrobras Amazonas Energia não se pronunciaram até a publicação desta reportagem.
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