LIVRAMENTO - VIOLÊNCIA NA FRONTEIRA. Padre é baleado durante assalto em Livramento. Religioso levou tiro no ombro depois de dizer a jovens que o abordaram que não tinha dinheiro - MARINA LOPES
Nem padre escapa de assalto na fronteira. Esse era o comentário nas esquinas de Santana do Livramento, ontem, durante o dia, quando veio à tona que um dos padres mais queridos da cidade, Felipe de Oliveira Perez, 34 anos, responsável pela paróquia Nossa Senhora do Rosário, havia sido assaltado e levado um tiro no ombro no início da madrugada.
Anotícia mobilizou a cidade. Fiéis e frequentadores da igreja localizada no centro da cidade congestionaram as linhas do Centro Hospitalar Santanense para saber notícias do pároco, que lota suas missas diariamente às 18h. O assalto ocorreu quando o padre voltava de um jantar na casa de fiéis, por volta da 0h15min de ontem, em frente ao Parque Internacional, que separa Brasil do Uruguai.
Faltando apenas cem metros para chegar à casa paroquial, localizada junto à igreja, Perez foi abordado por dois jovens, que lhe pediram dinheiro. O padre informou que não estava carregando nenhuma quantia, e um dos rapazes disparou um tiro, que acertou o ombro, a apenas um milímetro de distância da artéria aorta. A dupla atingiu o padre e saiu correndo.
Como o religioso não chegou a ver nitidamente o rosto dos assaltantes, o delegado Othelo Caiaffo, que atendeu à ocorrência, comentou que vai ser difícil identificar e prender os responsáveis. Caiffo acrescenta que o local em que ocorreu o assalto já é perigoso de dia. À noite, mais ainda.
– É um local vulnerável, porque eles assaltam e correm para o outro país, sem que a gente tenha o que fazer. Por mais que haja policiamento, deve-se evitar o local à noite – diz.
Perez, nascido em Santana do Livramento, mas naturalizado uruguaio, deve ter alta entre hoje e amanhã. Ele atua como padre na cidade há quatro anos.
– Ele é um homem muito bom, por isso Deus salvou. Ficamos chocados com a notícia – diz uma das ministras da igreja e acompanhante do pároco no hospital, Deusi Mari Vieira.
ENTREVISTA. “Houve um milagre, podia ter morrido”. Felipe de Oliveira Perez, padre
Padre Felipe de Oliveira Perez conversou com Zero Hora por telefone ontem enquanto se recuperava do susto. Veja trechos da entrevista:
Zero Hora – Como foi o assalto?
Felipe Perez – Um grande susto. Tudo muito rápido. Não me pareceram uruguaios. Eram dois jovens. Perguntaram se eu tinha dinheiro. Disse que não e na mesma hora dispararam. Saí nervoso, cheguei em casa, vi que sangrava, peguei o carro e fui sozinho até o hospital.
ZH – O senhor acredita que os assaltantes sabiam que se tratava de um padre? O que o senhor espera que aconteça com eles?
Perez – Creio que não sabiam. Espero que Deus tenha misericórdia. Não tenho rancor algum. Como diz na Bíblia, eles não sabem o que fizeram. Espero que se convertam.
ZH – Que lição o senhor tirou do ocorrido?
Perez – Foi uma experiência de dor, força e vitória. Mas a vida continua. Houve um milagre, podia ter morrido, mas nasci de novo.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Realmente é difícil o policiamento nas fronteiras com o Uruguai em Livramento, apesar da ótima integração que existe entre a Brigada Militar, Polícia Civil e a Polícia Nacional de Rivera, esta última com o dobro de efetivos em relação as duas polícias do Brasil.
Quando comandei o policiamento em Livramento mantinha duas equipes de policiamento comunitário 24 horas no Parque Internacional, uma dupla montada e uma guarnição motorizada. Além disto, tinha uma equipe de resposta rápida, outra de contenção realizada pelo Pelotão Especial e uma Patrulha Rural que conhecia todos os pontos de risco da extensa fronteira. Todas com relações aproximadas com as comunidades locais e com as equipes e rondas da Polícia Nacional do Uruguai em Rivera. Apesar do pouco tempo, fizemos milagre lá. Sem falsa modéstia. Foi um dos melhores programas de policiamento comunitário que realizei na minha carreira, pois encontrei comprometimento dos brigadianos do 2 RPMon, apoio da comunidade e mídia de Santana do Livramento, solidariedade da PC, PF e do Exército, e colaboração e amizade dos policiais uruguaios sediados em Rivera.
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