ZERO HORA, 31 de maio de 2012 | N° 17086
TERRA URUGUAIA
Caso teria ocorrido na segunda, no Uruguai, mas polícia alega que fiscalização foi no lado brasileiro - LAURA SCHENKEL E LETÍCIA COSTA
Uma abordagem no começo da semana, feita por um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF), teria parado um caminhão de alimentos uruguaio. A ação teria acontecido em terras vizinhas.
Aaeronave, que integra a Operação Sentinela (de combate ao crime e ao contrabando na fronteira), teria descido em uma área a cerca de 30 quilômetros da fronteira dos dois países, no lado uruguaio. Em entrevista por telefone, o chefe da polícia de Rivera, Heriberto Fagundez, afirmou que, na segunda-feira à tarde, foi realizada a abordagem, perto do povoado de La Puente, na Ruta 28. Segundo o depoimento dos dois ocupantes do caminhão uruguaio, os policiais brasileiros teriam revistado a carga e perguntado se estavam em território brasileiro. Ao escutar que estavam no Uruguai, um dos agentes teria demonstrado surpresa. Depois da abordagem, os policiais teriam entrado no helicóptero e decolado.
O caso foi relatado por Fagundez ao Ministério do Interior uruguaio. No entanto, o chefe da polícia de Rivera não sabe informar se haverá uma investigação sobre a possível invasão de território pela polícia brasileira. ZH tentou contato com o ministro do Interior do Uruguai, Eduardo Bonomi, mas ele não atendeu as ligações.
Polícia diz que fronteira é muito sinuosa
Ao saber do caso pela imprensa, o inspetor Alessandro Castro, chefe de comunicação da PRF, ouviu a equipe que realizou a abordagem. Eles confirmaram que revistaram, armados, um caminhão do tipo baú. Baseados na localização do aparelho de GPS da aeronave, alegam que tudo ocorreu em território brasileiro.
O chefe da 11ª Delegacia da PRF em Santana do Livramento, Valmir de Souza do Espírito Santo, afirma que não conseguiu falar com o comandante da equipe que teria realizado a ação, pois ontem ele estaria em uma operação. Ele afirma que os pilotos são orientados a tomar cuidado nestes casos, mas justifica que a fronteira com o Uruguai é muito sinuosa. Por causa da suspeita, a equipe de pilotos envolvidos deve enviar hoje à PRF, em Porto Alegre, um relato por escrito sobre a abordagem.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Isto prova o amadorismo do Brasil nas questões internacionais referentes à segurança pública. Salvo a Polícia Federal, as demais instituições desconhecem a maioria das normas internacionais, as características do terreno e o cenário que envolve as linhas de fronteira, justamente porque estes fatores não fazem parte da rotina de trabalho dos agentes destas instituições. Há muito tempo estamos tentando mostrar a necessidade do Brasil ter um força policial de fronteira capacitada, treinada e habilitada para atuar de forma permanente e ostensiva ao longo das fronteiras do Brasil. É uma pena que a nossa voz não ecoa nos gabinetes destes "governantes". Portanto, enquanto os governantes insistirem em investir e aplicar políticas anacrônicas, superficiais, fragmentadas e inoperantes na segurança das fronteiras, o Brasil continuará pagando "micos" como este, criando conflitos internacionais e facilitando as ações da bandidagem para traficar armas, drogas, pessoas, valores e animais pelas fronteiras abertas, com graves consequências para paz social do cidadão brasileiro.
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